Velho é o mundo!

 


A impactante declaração de Kim Kardashian (socialite norte-americana), para o jornal The New York Times de que comeria até cocô para aparentar ser mais jovem é definitivamente o cúmulo da vaidade. Contudo, devemos nos perguntar por que uma mulher jovem, de quarenta e um anos de idade, está tão desesperada para se manter esteticamente jovem a tal ponto de cogitar a ideia de comer fezes em prol da beleza? Existe alguma justificativa plausível? E por que grande parte das mulheres teme a velhice?

Todos irão concordar que o pensamento da Kim Kardashian beira a insanidade mental. No entanto, diversas outras mulheres ao redor do mundo provavelmente fariam a mesma coisa para se manterem jovens - com o mesmo viço e frescor de outrora - dos tempos em que a idade não era um fardo e o glamour da juventude, juntamente com sua vivacidade, era fator admirável, enaltecido e bastante valorizado pela sociedade. Porém, este comportamento obsessivo pela aparência jovem é um reflexo da cultura de muitos países, em que as mulheres são desvalorizadas, descartadas e excluídas da sociedade quando envelhecem.

É compreensível, portanto, que muitas delas façam loucuras e gastem rios de dinheiro com cirurgias, procedimentos estéticos e produtos de beleza dos mais variados tipos para alcançar o desejado rejuvenescimento. Produtos que prometem realizar verdadeiros milagres de modo que o mercado dos cosméticos lucra bilhões de reais com a imensa quantidade de homens e mulheres que buscam estirar a pele, amenizar as rugas e as imperfeições do corpo, utilizando botox e tantas outras substancias. Mas qual é o real preço a ser pago na tentativa de esconder a própria idade?

Não quer dizer que as pessoas não devam se cuidar e nem se preocupar com a própria aparência física. O grande problema é que muitos estão priorizando somente a estética, sem se atentar para os cuidados com a saúde mental. E mais, não querem admitir para o mundo e muito menos para elas mesmas que estão envelhecendo, como se este processo fosse algo degradante e vergonhoso, quando na verdade deveria ser motivo de muito orgulho e gratidão. Afinal de contas, envelhecer com saúde e disposição requer dedicação, hábitos saudáveis e uma boa dose de leveza e bom humor para manter a saúde mental em dia.

Infelizmente, a velhice é muito estigmatizada em várias comunidades, sendo que nas mulheres ela ocorre ainda de forma muito mais intensa do que nos homens. Enquanto que uma mulher de cabelos brancos é considerada velha e antiquada, o homem de cabelos grisalhos (até o termo muda) é tido como charmoso, maduro e experiente. Contudo, de um modo geral, a velhice representa senilidade, declínio, falta de valor e utilidade numa sociedade que exige produtividade a todo tempo e a qualquer custo.

É muito triste perceber que um processo natural da vida como o envelhecimento é visto como algo tão assustador, repulsivo e degradante. A questão é que muitas pessoas tem verdadeiro pavor de envelhecer e não há como julgá-las ou culpá-las por se sentirem desta maneira, afinal, elas foram educadas e condicionadas desde muito cedo a valorizar o que é considerado bonito e a pensar que um idoso é sinônimo de pessoa feia, caduca e sem vida social.

Como combater este pensamento tão equivocado? Começando pela quebra de paradigmas, pois a velhice também é um estado de espírito. Há tantos jovens com uma postura tão rígida e conservadora, que não se permitem viver experiências únicas e incríveis. Eles não sabem de fato desfrutar das coisas boas da vida e da própria juventude. Por outro lado, há muitos “velhos” cheios de energia, sagacidade e maturidade para tomar decisões mais assertivas e viver tudo o que desejam até o último suspiro de suas respectivas existências. Em sequência, parar de usar a palavra “velho/a” de modo depreciativo ao se referir a uma pessoa idosa, pois velho mesmo é o mundo, aqui estamos a tratar de pessoas com idade avançada, mas com o espírito eternamente jovem.

Atualmente, há um número elevado de mulheres que ainda não aceitam envelhecer e se submetem a diversos procedimentos estéticos e cirúrgicos numa luta constante contra o tempo e o percurso natural da vida inerente à raça humana, os chamados ciclos da vida. A natureza está em constante transformação e por fazermos parte dela, também passamos por processos evolutivos de mudança interna e externa, assim como existe na natureza, as estações do ano que se modificam ao longo dos meses. O crescimento, desenvolvimento e amadurecimento de um indivíduo faz parte da lei natural da vida.

Mas qual o sentindo em querer parecer sempre jovem? Ainda não há ciência ou tecnologia que seja maior do que a força da própria natureza e de Deus. Não somos seres imortais e o belo da vida é justamente saber que um dia ela terá fim e que, portanto, temos que aproveitá-la da melhor maneira possível. O grande “insight” do processo de envelhecimento é usar todo o conhecimento e amadurecimento adquiridos ao longo do caminho para saber quais decisões tomar diante de determinadas situações para se viver bem. E isso só vem com a experiência e a velhice evidenciada em cada ruga, cicatriz e mancha que narra histórias e fatos extraordinários.

Tentar escondê-las é como se você quisesse apagar a sua identidade e sua própria história de vida. O mais triste de tudo é que nos deparamos com mulheres completamente deformadas e irreconhecíveis pelo excesso de procedimentos utilizados para aparentar algo que verdadeiramente, não são. Afinal, a juventude pertence aos jovens, no entanto, a jovialidade pertence a qualquer idade, inclusive aos idosos.

O que mais assusta é o fato crescente de pessoas jovens estarem aderindo aos procedimentos estéticos de forma excessiva, sem se darem conta de que o essencial é invisível aos olhos. De que a beleza é fugaz e, portanto, devemos aproveitá-la enquanto ainda está em seu ápice, mas não devemos nos tornar escravos dela. De que o envelhecimento com saúde é um privilégio de poucos. E que o belo está em todas as fases da vida, inclusive, na velhice.


Foto: Reprodução/Jusbrasil 

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