Nem Alláh, nem Deus – Salvem-se quem puder


 

Palestina e Israel são inimigos históricos. O conflito existente entre árabes e judeus se acirrou um pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a fundação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948. Desde então, diversas disputas geopolíticas foram travadas no Oriente Médio, entre elas: a Guerra da Independência (1948-1949) e a Guerra dos Seis Dias (1967), com a Palestina e outros países objetivando recuperar o que antes fora seus respectivos territórios.

Segundo os judeus, a região onde está localizada a Palestina é considerada a Terra Prometida por Deus ao profeta Abraão. Por esta razão, os judeus sionistas sempre reivindicaram (e ainda reivindicam) a ocupação integral do território palestino, assim como também defenderam a criação do próprio Estado de Israel. Acontece que os árabes não concordam com esta promessa bíblica, porque o conceito de lugar sagrado também é partilhado com mulçumanos e cristãos. Além do fato de que o povo árabe surgiu a partir da descendência de Ismael, filho primogênito de Abraão.

Para quem não conhece a história do profeta e sua esposa, Sara, eles foram incumbidos por Deus para serem os pais de numerosas nações. Segundo a bíblia, o Senhor preparava a linhagem pela qual seu filho Jesus viria ao mundo. Entretanto, por ser uma mulher estéril, Sara jamais conseguiria engravidar. Num ato de desespero e descrença, ela aconselhou o marido a dormir com sua escrava, Agar – de nacionalidade egípcia – para que lhe desse um herdeiro. Dessa união, nasceu Ismael.

Contudo, por um milagre divino, Sara finalmente engravidou aos noventa anos de idade e deu à luz a Isaque, seu filho biológico prometido e tão aguardado. Embora unidos pelo sangue paterno, os herdeiros se tornaram rivais, uma vez que Agar e Ismael foram expulsos do clã de Abraão a pedido de Sara e ficaram vagando pelo deserto por muito tempo. Da descendência de Ismael, portanto, vieram os árabes e da de Isaque, os judeus. A rivalidade entre os dois povos é bem mais antiga do que muitos imaginam.

Vale ressaltar que a partir do patriarcado, surgiram três grandes religiões: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Inacreditável como elas nasceram do mesmo berço paterno e tomaram rumos completamente distintos. E até hoje, essas duas nações não conseguiram apaziguar as tensões religiosas e os conflitos políticos que são responsáveis por tanto derramamento de sangue ao longo da história. Ambas são vítimas algozes uma da outra e da mentalidade bélica que busca resolver tudo no uso da força bruta para defender direitos e reconquistar territórios.

Desde a fundação de Israel e a tomada do território palestino pelos judeus durante e após a Segunda Guerra Mundial, a soberania palestina ficou bastante comprometida em razão da ocupação israelense na Cisjordânia e pelo cerco à Faixa de Gaza. A divisão política é outro fator que fragiliza a soberania do país pelo fato da autoridade palestina comandar a Cisjordânia, enquanto o Hamas governa a Faixa de Gaza. O não reconhecimento da Palestina como uma nação independente por Israel, Estados Unidos e outros países é algo que também dificulta o seu pleno reconhecimento global como um Estado político legal.

A atuação do Hamas, um dos maiores grupos de fiéis islâmicos da Palestina, intensifica ainda mais o conflito por defender o extermínio do povo judeu. Embora o Brasil, na formação do atual governo, não reconheça o Hamas como uma organização terrorista, as ações desse grupo são conhecidas por serem extremamente violentas, cruéis, além de propagar o medo e o terror pelo mundo. Em regra, são agentes responsáveis por inúmeras carnificinas.

O dia 07 de outubro de 2023, portanto, jamais deverá ser esquecido. O Hamas sequestrou, estuprou e matou centenas de milhares de pessoas, entre elas: mulheres, idosos e bebês inocentes. Diversas famílias não puderam nem enterrar seus entes queridos por não saberem o paradeiro de seus corpos, enquanto outras ficam na esperança de que ainda estejam vivos em algum lugar. Como se não bastasse a chacina, os integrantes do Hamas ainda filmaram seus atos bárbaros para o mundo inteiro ver, transformando tudo aquilo em um verdadeiro espetáculo de horror.

Esta guerra foi longe demais. Já causou muitos danos e perdas para ambos os lados. Não se trata mais de negociar a vida de reféns que ainda estão sob o domínio de terroristas sanguinários, mas de exterminar o próprio mal pela raiz, custe o que custar. Infelizmente, os cidadãos são os que mais sofrem ao se tornarem alvos fáceis e produtos de barganha entre os governos. E nesse interim, a Faixa de Gaza se tornou o novo Corredor Polonês: um espaço tenebroso em que civis inocentes não têm outra escapatória a não ser o encontro inevitável com a morte.

Por quase dois milênios, os judeus foram um povo sem pátria, perseguido e assassinado de forma cruel e desumana, especialmente durante o Holocausto. Porém, nada justifica o que o governo de Israel, a mando do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, tem feito contra cidadãos palestinos, por vingança e retaliação ao grupo terrorista, como o bloqueio de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Não se combate violência e ódio com mais violência, por mais que o povo israelense tenha sofrido com a atuação de grupos terroristas. Também não se combate terrorismo violando direitos humanos que pode ensejar a morte de tantas pessoas.

Será que a humanidade está na iminência de presenciar uma Terceira Guerra Mundial? Afinal, além da guerra entre árabes e judeus, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia também continua se intensificando e balançando as estruturas geopolíticas e econômicas do planeta Terra. Será possível que não aprendemos nada com as guerras anteriores? Até quando o ser humano enaltecerá a sua capacidade de destruir e causar o mal? Ainda buscamos a paz por meio dos canos de fuzis e armamento bélico, quanta incongruência. Onde estão os Mahatma Gandhi, Eleanor Roosevelt e Martin Luther King deste século?

Enquanto isso, grupos terroristas se aproveitam da dor alheia para causar ainda mais sofrimento, até mesmo ao povo palestino, uma vez que civis são utilizados como escudo humano e morrem por uma ideologia radicalista. Enquanto isso, o antissemitismo cresce vertiginosamente no mundo inteiro, apesar de tudo que o povo judeu sofreu com o holocausto. Como podem defender e incitar este sentimento tão repugnante?

A meu ver, é retroceder demais na história ao repetir os mesmos passos que um certo ditador começou algumas décadas atrás e que dizimou milhões de vidas inocentes. Com relação ao conflito entre Israel e Palestina, não se trata mais de defender um lado, mas sim, vidas humanas, seja qual for a etnia, credo ou religião. Não se trata de vencedores e perdedores, pois ambos tiveram perdas imensuráveis e continuam a sangrar com essa maldita guerra. E o fato de você escolher um lado, não lhe dá o direito de querer o extermínio do outro. O antissemitismo é tão perverso quanto o nazismo. Consegue entender isso?

Lamentavelmente, o passado continua a nos assombrar e a reviver o que já deveria ter sido abominado há anos.  A natureza humana vai de encontro a evolução, pois ainda persiste no erro e na ignorância. Estamos fadados ao caos beligerante que move os homens pelo constante desejo de poder e de se perpetuar nele, mesmo que custe a vida de centenas de milhares de inocentes. Mesmo que muitos matem em nome de um deus.

 

Foto: Pinterest

Fontes:

Guerra em Gaza: por que plano de Netanyahu para o território ameaça dividir Israel, matar palestinos e enfurecer o mundo - BBC News Brasil

Palestina é um país ou um estado? Entenda qual é a situação dos palestinos | Revista Fórum

Conflito entre Israel e Palestina (em resumo e com mapas) - Toda Matéria

Hamas: o que é o grupo islâmico que combate Israel; resumo - BBC News Brasil

Autoridades pelo mundo 'compram mentiras' do Hamas e atacam governo Netanyahu, diz embaixada após críticas de Lula | Política | G1

 

 


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