Shurastey or Shuraigow?
A
bem pouco tempo conheci a história do Shurastey e do seu dono Jesse Koz, um
jovem rapaz de 29 anos que se tornou influenciador e nômade digital. Olhando os
vídeos e fotos do perfil do Instagram, fiquei simplesmente encantada com a
jornada deles pela vastidão do mundo afora. Infelizmente, sofreram um terrível acidente
de carro quando ainda estavam em Oregon, nos Estados Unidos rumo ao Canadá,
último
destino de Koz antes de chegar ao Alasca.
Entretanto,
não estou aqui para falar destas trágicas mortes, mas sim, do espírito
aventureiro e livre de um homem que decidiu vender tudo o que tinha para sair
viajando pelo mundo dentro de um fusca 1978 e na companhia do seu fiel
companheiro e amigo: o Shurastey, cão de raça golden retriever. E mesmo sem
conhecê-los pessoalmente, dá para perceber o quanto a conexão entre eles era
algo bem forte e especial. Eu me atrevo
a dizer que somente quem ama e cuida do seu animal de estimação, tratando-o com
dignidade e respeito, sabe exatamente o que a relação deles representava.
Jesse
Koz morava em Balneário Camboriú, Santa Catarina, pertencente a classe média
baixa e aos dezessete anos de idade fugiu de casa para viver nas ruas, onde
morou por um certo tempo até receber a ajuda de Valdecir (não sei se a escrita
está certa), um senhor que lhe propôs um trabalho como chapeiro em um shopping.
Após sete anos trabalhando neste lugar, decidiu vender todos os pertences que
tinha para juntar uma boa grana, na época R$10.000,00, para viajar pelo mundo.
A jornada dele e do seu inestimável parceiro canino se iniciou em 2017 e desde
então, visitaram diversos países da América do Sul, Central e Norte.
O
que mais me fascina nesta história é o desprendimento, a simplicidade e a
coragem de pessoas como Jesse, que não vivem de acordo com os padrões sociais.
Pessoas que se arriscam diariamente e se permitem viver experiências únicas,
intensas e extraordinárias. Pessoas que vivem as suas respectivas vidas de
acordo com aquilo que verdadeiramente acreditam, sem se preocupar com a opinião
alheia. Indivíduos que são felizes com tão pouco e mesmo assim são detentores
de uma riqueza imensurável: a da alma leve, livre e rica de conhecimentos e
vivências das mais diversas.
Não
tenho dúvidas de que muitos o taxaram de louco ou até mesmo de vagabundo,
preguiçoso e encostado por ter largado um emprego fixo e remunerado para viver
a instabilidade financeira de um estilo de vida que requereria dispêndio de
dinheiro para poder ser mantido ao longo dos anos. Acredito que a maioria das
pessoas achou que a vida dele era fácil e boa demais por estar sempre viajando,
sonho de consumo de muitos, mas tudo na vida sempre tem o lado positivo e
negativo.
Viajar
é maravilhoso, mas quando alguém se encontra na estrada por muito tempo, tem
que estar atento e preparado para lidar com as adversidades climáticas,
culturais e os contratempos
que
impedem ou atrasam o curso da viagem. E no caso de Jesse, tendo que resolver os
problemas, na maior parte do tempo, sozinho. Não desmereço aqui a presença de
Shurastey, mas convenhamos que não há muita coisa que um cão possa fazer, além
de ser uma agradável companhia. Neste aspecto, este cãozinho foi fundamental
para que o Jesse não se sentisse completamente só. E para além de um simples
companheiro de viagem, um parceiro e verdadeiro amigo do início ao fim.
Não
posso deixar de mencionar o vídeo em que ele mostrou como mantinha a
higienização pessoal: banho a cada dois dias, enchendo uma garrafa
(provavelmente de 2l) com água de rio e esquentando no motor do carro. A cama
era uma cabana montada em cima do fusca ou Dodongo (apelido carinhoso dado por Jesse)
que, muitas das vezes, estava parado no meio do nada, a quilômetros de
distancia da civilização. A natureza, em seu estado selvagem e natural, era o
panorama mais real, deslumbrante e também desafiador para ambos.
Pelo
visto, o Jesse soube superar os desafios (ou perrengues como costumava dizer), que
foram surgindo no meio do caminho e imagino que foram muitos, principalmente,
problemas mecânicos. O que mais me impressionou a respeito da personalidade
dele foi a humildade de reconhecer que precisou da ajuda de muitas pessoas para
poder manter o itinerário da viagem. Na maioria das vezes, nativos que cederam
suas casas para que ele tivesse um lugar para dormir, além da cabana instalada
no teto do fusca. Pessoas que se tornaram bons amigos e até prováveis
seguidores no instagram para acompanhar o restante da jornada dele e de
Shurastey.
Apesar
de Jesse não possuir um diploma de nível superior, ele aprendeu muito com a
grande escola chamada vida. Tenho certeza de que conseguiu absorver todo o conhecimento
que estava diante dele em cada contato com uma paisagem diferente e sua
biodiversidade singular; um novo país com uma cultura completamente diferente
do anterior e com pessoas com estilos de vida distintos também. Imagino que ele
aprendeu a enxergar o mundo sob uma perspectiva mais abrangente e plural, além
de valorizar as pequenas alegrias em situações e momentos que não requerem
muito dinheiro, mas o desafio de se manter conectado com as pessoas e a
natureza ao redor.
As
mortes prematuras de ambos surpreenderam a todos, porém os desígnios de Deus
para cada um de nós tem um propósito maior que desconhecemos em razão das
nossas limitações. Talvez tenha sido o momento de interromper a viagem, mas os
ensinamentos de Jesse e Shurastey, por meio das experiências compartilhadas nas
redes sociais continuarão a nos inspirar e emocionar.
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