PRF ou Gestapo: existe diferença?
Está
realmente difícil de assistir aos noticiários na televisão, pois só nos
deparamos com trágicas reportagens de assaltos, estupros e assassinatos
ocorridos em cada canto deste país de modo recorrente e bastante habitual. E
quando penso que já vi um ato com elevado grau de crueldade, aparece outro
ainda pior para nos estarrecer e amedrontar. No entanto, não posso me calar
diante uma cena de horror que chocou o país na quarta-feira (25/05), no município
de Umbaúba, no estado de Sergipe.
Desta
vez os papéis foram invertidos, pois os criminosos são agentes da Polícia
Rodoviária Federal que, a sangue frio, torturam e mataram um cidadão de bem
asfixiado por gás lacrimogêneo dentro do porta-malas da viatura da própria
polícia. O Laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que a causa da morte
da vítima foi por asfixia mecânica e insuficiência respiratória.
O
homem se chamava Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos e que sofria de uma
doença mental. Segundo o depoimento da esposa, ele tinha esquizofrenia, porém,
a doença estava sob controle devido a tratamento que o marido vinha se
submetendo há vinte anos. Na cidade, ele era querido e respeitado pelos
familiares, amigos e moradores da região que tinham plena ciência da condição
de saúde dele.
Infelizmente,
Genivaldo foi abordado por policiais rodoviários federais em uma blitz, com
ressalvas para o fato de ter atendido todos os comandos de maneira pacífica:
parando a moto e colocando as mãos para cima. Quando os policiais se
aproximaram para revistá-lo, mencionou e sinalizou os comprimidos que havia no
bolso de sua bermuda em razão de possuir um transtorno mental. Pelo visto, os
policiais não acreditaram nas palavras dele, pois a partir daquele instante
iniciaram uma abordagem física agressiva, inclusive, pedindo reforços de mais colegas
para “contê-lo”.
A
verdade é que inicialmente ele não demonstrou resistência, embora, tenha recebido
jatos de pimenta nos olhos; tenha sido chutado, pisado, agarrado pelas pernas e
braços, sendo imobilizado pelos policiais e amarrado pelas pernas com uma fita
adesiva. Depois de ter sido torturado foi friamente executado numa câmara de
gás improvisada pelas autoridades policiais no camburão da viatura. Por meio do
vídeo que foi divulgado nas redes sociais e nos sites de notícias, é possível
ouvir os gritos deste homem agonizando até a morte. Uma lástima termos que
testemunhar, em pleno século XXI, a morte violenta e desumana de um cidadão
assassinado por método que foi utilizado pelos soldados nazistas durante a 2ª
Guerra Mundial, com o objetivo de exterminar os judeus. Além de ser crime
hediondo, é um retrocesso moral e ético imensurável para a nossa civilização e
para a história da humanidade.
Quanta
falta de respeito e cidadania para com um homem que não fez nada de errado e
mesmo que tivesse cometido qualquer ato ilícito, teria direitos assegurados no
ordenamento jurídico brasileiro no que diz respeito à ampla defesa,
contraditório e o devido processo legal. Contudo, nos deparamos com mais um
caso de abuso de poder, em que autoridades policiais extrapolam o exercício do
ofício que lhes foi concedido pelo Poder Público para praticar delitos. É uma
verdadeira anomalia, uma contradição e um desserviço para a população que fica
refém de policiais inescrupulosos e sem ética profissional.
Este
caso relembra muito a morte de George Floyd (1973-2020), cidadão
norte-americano que foi morto por um policial que o asfixiou até a morte por
nove minutos. Confesso que pensei nele assim que vi a imagem de Genivaldo
dentro daquele camburão sendo asfixiado por gás lacrimogêneo. Entretanto, jamais
pensei que após Floyd, e o impacto que a morte dele teve no mundo, eu veria uma
morte similar em tão pouco tempo. Mas até quando continuaremos a nos deparar
com casos alarmantes como estes?
A
PRF afirmou que já abriu um procedimento disciplinar para averiguar a conduta
dos policiais envolvidos. Que a penalidade administrativa seja a exoneração dos
cargos e a sanção penal, a pena privativa de liberdade; além do pagamento de indenização
à família pela perda de um ente querido. Os familiares e moradores de Umbaúba clamam
por justiça.
#VIDASIMPORTAM
Foto:
Reprodução/Instagram @desenhosdonando
Fontes:
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