A máfia da madeira ilegal no Brasil e no mundo

 


Desde o final de 2019 e o início de 2020, o Governo Americano por meio do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (FWS) - órgão de controle ambiental - denunciou casos de exportação ilegal de madeira advinda de várias regiões do Brasil para os portos norte-americanos. Em janeiro do ano passado, deteve três contêineres de madeira para inspeção por falta de documentação que via de regra, deveria ter sido dada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Devido a esta falha, o FWS pediu ao Ibama que esclarecesse a questão da falta de documentos legalmente exigidos.

Em ofício encaminhado pela Embaixada Americana à Polícia Federal, os Estados Unidos relataram as irregularidades encontradas na importação feita pela empresa Tradelink Madeiras Ltda, que possui base no município de Ananindeua no Pará e com representante sediada em Carolina do Norte, EUA: a Tradelink Wood Products Inc. Em retorno ao pedido solicitado, o Ibama em Belém enviou uma carta ao FWS que comprovou que as cargas importadas pela tal empresa não tinham sido analisadas pelo setor competente e que dados falsos foram inseridos no sistema para que o material fosse liberado sem a autorização prévia do próprio instituto.

Deste modo, uma quantidade considerável de madeira de Ipê e Jatobá - em torno de 153 mil metros cúbicos (m³) – seguiria para o destino final que seria o Porto de Savannah, na Geórgia (EUA), centro de comércio no país. Contudo, o instituto enviou várias “certidões” com o intuito de liberar o material que estava detido, afirmando que de acordo com a nova legislação (Despacho n. 7036900/2020/GAB/IBAMA), já não havia mais a necessidade de autorização de exportação, mas apenas apresentação do Documento de Origem Florestal (DOF). Palavras escritas pelo Presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, em documento encaminhado para o FWS.

Todavia, os contêineres continuam detidos pelas autoridades norte-americanas até que se comprovem as origens e legalidade da madeira. O Governo Americano também abriu uma investigação policial para perquirir o histórico da Tradelink Wood Products Inc e de seu possível envolvimento em fraudes, corrupção e crimes ambientais.

No Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão imediata da aplicação do Despacho n. 7036900/2020/GAB/IBAMA, editado em 2020, que permitia a exportação de produtos florestais sem a necessidade da emissão de autorizações.

Atualmente, a importação de madeira brasileira está centralizada em torno de vinte países, sendo os Estados Unidos o maior comprador de todos, liderando o consumo de madeira nacional. Em segundo lugar está a França, seguida da China, Holanda e Bélgica. Segundo dados do Ibama, “os dez maiores compradores internacionais de madeira do Brasil consumiram 73,47% de todos os produtos madeireiros exportados pelo país no período de 2012 a 2017”. As espécies mais cobiçadas pelos estrangeiros são o ipê, cerejeira-da-Amazônia, jacarandá-violeta e mogno.

Entretanto, em razão dos inúmeros esquemas fraudulentos que ocorrem no mercado madeireiro brasileiro, até mesmo as exportações oficiais, realizadas em plena conformidade com a lei, resultam em muitos países importando madeira cuja origem não é 100% legal. De onze municípios que mais desmatam no Brasil para comercializar madeira ilegalmente, cinco estão situados somente no estado do Pará.

A organização não governamental sem fins lucrativos, atuante na luta pela preservação, proteção e monitoramento da Floresta Amazônica e toda sua biodiversidade - o Fundo Nacional da Amazônia (famazonia) - constatou por meio de pesquisas que a Indusparquet, maior exportadora de pisos de madeira do Brasil e que está crescendo fortemente nos Estados Unidos e na Europa (fornecem seus pisos e revestimentos para mais de 40 países), é acusada de estar vinculada ao desmatamento ilegal na Floresta Amazônica. Apesar das acusações, a empresa continua atuando no mercado tendo, inclusive, recebido a suspensão de sanções governamentais.

Durante abertura da Cúpula do Brics - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - que ocorreu em novembro do ano passado, o Presidente Jair Bolsonaro chegou a ameaçar que revelaria o nome dos países que vem importando madeira ilegal da Amazônia e contribuindo efetivamente para o desmatamento da Floresta Amazônica. Na época, o presidente não cumpriu com a palavra justamente para evitar possíveis crises diplomáticas com países cujo Brasil desenvolveu relações difíceis por conta do alto índice de desmatamento e das queimadas na região Amazônica, fato que preocupa toda a humanidade.

Em seu discurso, no entanto, aproveitou para rebater as críticas que tanto o seu Governo recebeu de vários países com relação aos problemas mencionados anteriormente: - “Então revelaremos nos próximos dias o nome dos países que importam essa madeira ilegal nossa, através da imensidão que é a região Amazônica, porque aí sim estaremos mostrando que esses países, muitos desses que nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão”.

Recentemente, veio à tona a notícia de que países como Alemanha, Dinamarca, Itália, França, dentre outros, vem importando ilegalmente madeira do Brasil. De acordo com o Procurador Leonardo Galiano, responsável pela operação Arquimedes, “os países não são culpados pelas importações de madeiras ilegais, mas, sim, as companhias instaladas neles”. Razão pela qual as autoridades brasileiras pedem a cooperação de países europeus para identificar empresas estrangeiras que importam madeira de maneira irregular e punir severamente as indústrias que cometem fraudes e crimes ambientais.

A revelação dos nomes implica dizer que a verdade não pode ser para sempre omitida, ainda mais quando se trata de uma questão de ordem pública e de uma temática tão complexa como a preservação e proteção da biodiversidade da Floresta Amazônica - o pulmão do mundo - contra as ações de empresários e madeireiras desonestas, gananciosas e fraudulentas. Com ressalvas para a participação de agentes públicos e autoridades brasileiras corruptas que favorecem estas empresas, fraudando procedimentos licitatórios e facilitando a comercialização da madeira para fora do país sem a devida burocratização e fiscalização necessárias para tal.

É vergonhoso e ao mesmo tempo hilário pensar que o Presidente do Ibama, Eduardo Bim e o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles e mais dez funcionários do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente estão sendo investigados pela PF sob a suspeita de corrupção, prevaricação e facilitação de contrabando por meio da exportação ilegal de madeira. Contudo, partindo do princípio do Direito Penal “in dubio pro réu”, todos são inocentes até que se comprove o contrário por meio da ampla defesa e do contraditório, princípios constitucionais assegurados em lei.

Infelizmente, o histórico do Brasil evidencia uma quantidade imensurável de casos de corrupção no país, envolvendo agentes e autoridades públicas desde o baixo ao alto escalão. Vamos aguardar o resultado final das investigações. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal, portanto, vêm trabalhando juntos para combater e desarticular a rede de exportação e importação de madeiras originárias do desmatamento ilegal da Amazônia. Trabalho árduo, cansativo e complexo, uma vez que alguns dos criminosos podem ser agentes públicos que interferem na própria investigação da polícia.




Segundo o levantamento do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe): “2020 foi o segundo pior ano de desmatamento na Amazônia Legal desde 2015. Os dados revelam que uma área de 8.426 km² foi completamente desmatada. Em primeiro lugar aparece o ano de 2019, que apresentou um recorde histórico de 9.178 km²”.

 

Foto: Reprodução

Fontes:

https://exame.com/brasil/denuncia-dos-eua-sobre-exportacao-ilegal-de-madeira-no-brasil-foi-ignorada/

https://exame.com/brasil/sem-recursos-nada-feito-diz-ricardo-salles-ministro-do-meio-ambiente/

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/05/4925567-eua-denunciaram-exportacao-ilegal-de-madeira-pelo-brasil-mas-foram-ignorados.html

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-20/eua-entregaram-ao-brasil-detalhes-que-levaram-pf-a-salles-por-suspeita-de-contrabando-de-madeira-ilegal.html

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-19/ricardo-salles-e-alvo-de-operacao-da-policia-federal-que-apura-contrabando-de-madeira-brasileira.html#?rel=listaapoyo

https://www.famazonia.org.br/2021/01/02/informe-aponta-que-europa-e-eua-podem-ter-comprado-madeira-ilegal-do-brasil-e-ainda-estao-11117/

https://deolhonosruralistas.com.br/2018/06/07/alvo-de-apreensao-recorde-de-madeira-ilegal-empresa-orna-casa-do-papa-com-seus-pisos/

https://www.reuters.com/article/ambiente-bolsonaro-madeira-idLTAKBN27X1HX

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