Depp X Heard: Divórcio, difamação e violência doméstica
Após
o polêmico divórcio entre os atores Amber Heard e Johnny Depp em 2016 - em que
a atriz alegou ter sido vítima de violência doméstica – a ação judicial de
indenização por danos morais movida por Depp (2019), no valor de US$ 50
milhões, suscita novo conflito e embate entre os atores de Hollywood.
A
abertura do julgamento ocorreu no início de abril deste ano, momento em que declarou
ter sido difamado pela ex-esposa por meio de um artigo de opinião publicado no
jornal Washington Post, em dezembro de 2018. Na época, a jovem atriz afirmou:
- “Eu me manifestei contra a
violência sexual” — “Senti toda a força da ira que nossa cultura nutre pelas
mulheres que se manifestam” — “Tive a oportunidade de ver, em tempo real, como
as instituições protegem os homens acusados de abuso".
Apesar
dela não ter mencionado o nome do ex-marido, o ator interpretou o artigo como uma
afronta ao sugerir de maneira indireta que ele era o suposto agressor. Depp
também classificou o ato como crime de difamação por abalar a sua reputação e prejudicar
inquestionavelmente a sua carreira, uma vez que perdeu dois grandes contratos
cinematográficos: a continuação da saga “Piratas do Caribe” com o icônico
personagem Jack Sparrow e a franquia “Animais Fantásticos”, em que interpretou
o papel do vilão Gellert Grindelwald.
Em
depoimento no Tribunal do Condado de Fairfax, em Virgínia (EUA), Johnny Depp negou
ter agredido fisicamente a atriz:
- "Houve discussões e
coisas assim, mas nunca cheguei ao ponto de bater em Amber de forma alguma” — “Eu
não bati em nenhuma mulher na minha vida".
Para complicar ainda mais a situação do ator, o
jornal britânico “The Sun” publicou uma matéria em que o chamou de o “espancador
de esposas”. Entretanto, após mover uma ação judicial contra o News
Group Newspapers Ltd, editora do jornal britânico The Sun, Depp perdeu o caso e
teve o recurso negado. De acordo com o entendimento de um juiz britânico, Amber
tinha meios concretos como provar que tinha sofrido violência doméstica e,
portanto, era muito provável de que o abuso fosse verdade.
Em
resposta ao processo movido pelo ex-marido, Amber Heard também acionou a
justiça americana, alegando abuso sexual e violência doméstica, além de requerer
uma indenização no valor de US$ 100 milhões por ele estar chamando-a de
mentirosa. Em sua defesa, disse que Depp faz uso excessivo de álcool e de outras
drogas como cocaína e que na maior parte em que sofreu os abusos, ele estava
sob os efeitos de tóxicos. O ator confirmou apenas o uso das drogas.
Em
meio a todo este conflito, ainda nos deparamos com vários memes e vídeos de
pessoas na internet, especialmente mulheres, que ridicularizam e caçoam da Amber
Heard por ter se manifestado publicamente com relação aos abusos. E pior do que
o sentimento de repúdio e menosprezo destas pessoas para com uma mulher que
passou por um sofrimento muito grande num relacionamento conturbado e tóxico, é
o pensamento de que ela está se vitimizando ou até mesmo inventando histórias.
Faço
destaque para o fato de outras mulheres estarem julgando a Amber desta maneira,
pois qualquer mulher (pessoa de um modo geral) está suscetível de ser vítima de
abuso sexual e violência doméstica. Outra crítica pertinente está relacionada
com a ideia arcaica de que o marido não comete estupro ou qualquer tipo de abuso
sexual pelo fato da pessoa ser sua esposa e, portanto, estaria implícito de que
o sexo seria sempre consentido. Este pensamento já caiu por terra,
principalmente pelo fato do corpo do cônjuge não ser objeto da qual o outro
pode dispor da maneira como quiser. A intimidade e o corpo de qualquer pessoa são
invioláveis.
Contudo,
pasmem se quiser, teve internauta dizendo que a Amber deveria se sentir lisonjeada
por ter sido abusada por um homem tão lindo como Johnny Depp. Afinal de contas,
trata-se de um dos talentosos e renomados galãs de Hollywood tão desejado por
muitas mulheres. Esta ideia, além de ser surreal, distorcida e muito perigosa, ultrapassa
os limites do que é moral e legalmente aceitável na sociedade. Desrespeitar e violar
o corpo de outra pessoa é crime, não só no Brasil, mas em muitos outros países.
Não
estou aqui para fazer você escolher um lado, até porque casos como estes são
bem delicados, complexos e leva-se tempo para apurar toda a investigação. Apenas
Amber e Depp sabem o que realmente aconteceu entre quatro paredes (no caso
deles, até mesmo fora da residência do casal), porém, a verdade dos fatos
poderá ser revelada ou não. Mas como jornalista, também é meu papel falar sobre
homens que são condenados pela mídia, sociedade e pela própria justiça sendo
completamente inocentes. Eu não coaduno com alguns pensamentos feministas
radicais que partem do pressuposto de que todo homem, por possuir um pênis, é
um agressor em potencial.
Como
tudo na vida há sempre os dois lados da moeda, duas versões da história que coexistem,
torço para que a versão mais próxima da realidade seja a que auxilie o juiz a
agir conforme a lei e a tomar a melhor decisão. Não sei como funciona o
ordenamento jurídico norte-americano, mas aqui no Brasil existe uma nova
expressão popular que diz: - “Em briga de marido e mulher, se mete a colher”.
Denuncie
casos em que suspeite que ocorra violência doméstica.
Foto: Reprodução/www.marieclaire.co.uk
https://www.bbc.com/portuguese/geral-61078483
instagram/@tova_leigh
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