Massacre nos EUA - O ódio, a violência e o racismo que assolam o país
"Qualquer ato de terrorismo doméstico, incluindo um ato cometido em nome de uma repugnante ideologia de nacionalismo branco, é antitético a tudo o que defendemos nos Estados Unidos".
– Joe Biden
Mais
uma chacina envolvendo crime de racismo ocorreu nos Estados Unidos, na cidade
de Buffalo - Nova York, no sábado (14/05). Um homem branco de dezoito anos de
idade, trajando roupas militares e um colete à prova de balas dirigiu mais de
300 quilômetros de Conklin (sua cidade natal) até Buffalo para matar pessoas. O
principal alvo? Um bairro em que a maioria dos cidadãos é predominantemente
negra.
É
de conhecimento público que o sujeito entrou no estacionamento de um
supermercado chamado “Tops Friendly Market”, local em que o massacre aconteceu,
portando um fuzil do tipo AR- 15. Além de chegar atirando no local, matou três
pessoas ali mesmo e ao adentrar no estabelecimento, matou mais sete e deixou
outras três feridas. Do total de mortos, oito eram negros.
Utilizando um capacete equipado com câmera, o atirador pretendia mostrar em tempo real, na internet, este verdadeiro show de horror por meio da plataforma online de videogames “Twitch”, da “Amazon”. Quando questionada pelas autoridades locais sobre a divulgação do vídeo, a empresa afirmou que suspendeu a transmissão do massacre dois minutos após a sua divulgação em razão do conteúdo. E aqui fica o alerta para as plataformas de "streaming" que não fazem o devido monitoramento de acessos ou qualquer tipo de censura ou restrição a determinadas postagens dos seus usuários.
Antes
de se entregar para a polícia, o rapaz chegou a apontar a arma para si mesmo,
na altura do pescoço, demonstrando o desejo de retirar a própria vida ou quem
sabe, apenas um blefe para assustar as autoridades ali presentes. No momento está
preso sob forte monitoramento e vigilância, tendo em vista a tentativa de
suicídio manifestada anteriormente. O jovem estudante foi indiciado pelo
tribunal estadual de Nova York pelo crime de homicídio de primeiro grau cuja
pena máxima é de prisão perpétua sem liberdade condicional. Caso venha a ser
acusado pelo crime de terrorismo, como o próprio Presidente Joe Biden sustenta,
sofrerá a pena de morte legalizada no estado nova-iorquino.
No
ano passado, o estudante foi submetido a uma avaliação de saúde mental em um
hospital, após ter sido denunciado pela escola em razão de declaração ameaçadora
de efetuar tiroteio na instituição. Ele não foi acusado criminalmente e foi
liberado para casa após um dia e meio sendo avaliado por médicos. E me pergunto
como esta pessoa pôde ter sido liberada tão rapidamente? Será possível que os
médicos não perceberam nada de anormal no comportamento deste rapaz? Qual foi o
resultado dos laudos médicos?
Em
um país cujo histórico de massacres como o de Buffalo é cada vez mais
recorrente e sanguinário - cujos agentes responsáveis pelas mortes de inocentes
foram considerados verdadeiros psicopatas - se faz necessário o acompanhamento
psíquico mais reforçado e minucioso de jovens que demonstram comportamento
peculiar, agressivo e fora dos padrões de convivência ao longo de sua
trajetória acadêmica. Muitas das vezes, é difícil de identificar algum
comportamento estranho até pelo fato dele se manifestar tardiamente, mas quando
o individuo já vem demonstrando qualquer tipo de atitude suspeita, um
acompanhamento psicológico prévio já poderia identificar alguma doença mental
ou transtorno.
Outro
problema bem complexo está relacionado ao fácil acesso de pessoas, especialmente
jovens, a armas letais e de alto calibre. No estado da Florida, por exemplo,
basta apenas o cidadão apresentar a carteira de motorista, preencher um formulário
que será enviado para a autoridade local e aguardar aprovação ou não da compra
de armas. Em Ohio foi aprovado um projeto de lei (PL) que eliminou a exigência de
licença para porte de armas escondidas nas roupas, bolsas e carros, além de extinguir
a exigência de antecedentes criminais e treinamento de oito horas para uso e manuseio
apropriado de armas.
Acreditem
se quiser, mas trinta e um estados norte-americanos liberaram a compra, posse e
porte de armas escondidas, sem a licença. Segundo dados recentes dos Centros de
Controle e Prevenção de Doenças, foram registrados 19.350 homicídios com armas
de fogo em 2020 (índice aproximadamente 35% maior do que 2019). Entretanto, a
própria cultura dos Estados Unidos incita o uso de armas de fogo por jovens,
uma vez que os pais do atirador o presenteou com uma arma quando ele completou dezesseis
anos.
Por
este motivo, as autoridades devem repensar sobre a permissão do porte e posse
de armas por civis em diversos estados norte-americanos ou pelo menos
dificultar os requisitos necessários para que um cidadão possa comprar uma
arma: 1) Voltar a exigir a licença para porte de armas escondidas, 2) Aumentar
a idade mínima para se comprar e portar armas, 3) Treinamento com número
considerável de horas, 4) Exigência de antecedentes criminais, 5) Documento
médico que comprove a sanidade mental da pessoa, dentre outros.
Infelizmente,
os crimes de ódio por motivos raciais vêm matando muitos cidadãos negros, razão
pela qual o movimento social “Black Lives Matter” surgiu em 2012 nos EUA como
uma forma de protesto contra o abuso da força policial em cidadãos
afro-americanos, inocentes e cruelmente assassinados por policiais. Em 2020 e
2021 o movimento cresceu de maneira exorbitante, tendo uma repercussão
gigantesca no país e pelo mundo com vários manifestos pacíficos, repudiando o
racismo e o abuso de poder. O povo foi às ruas clamar por justiça e igualdade
de direitos.
Como
se não bastasse as trágicas e impactantes mortes de TRAYVON MARTIM (2012), ERIC GARNER (2014), MICHAEL
BROWN (2014), WALTER SCOTT (2015), PHILANDO CASTILE (2016), BOTHAM JEAN (2018),
ATATIANA JEFFERSON (2019),
BREONNA TAYLOR (2020), GEORGE FLOYD (2020), JACOB BLAKE (2020) e de
tantos outros negros nos EUA, ainda nos deparamos com mais um crime de ódio
absolutamente racista. E o pior de tudo é que este tal jovem, cujo nome não
irei mencionar, ainda se intitulou inocente e defensor de uma “causa nobre”: a
da raça ariana. Verificou-se que horas antes de cometer os assassinatos em
massa, ele publicou um manifesto de cento e oitenta páginas na internet em que
falava sobre a “Teoria da grande substituição” – uma teoria da conspiração
racista em que supostamente os homens brancos estão sendo substituídos por
minorias nos Estados Unidos e em outros países.
Eu
não mencionei o nome do atirador com o intuito de preservar a imagem dele,
muito pelo contrário. Acredito que o nome deste sujeito deve ser esquecido, ignorado.
Não merece ibope, pois para um grupo de pessoas que pensa e age como ele, o
atirador de Buffalo está sendo aplaudido e considerado um herói, o exterminador
das minorias impuras. Por tal motivo, eu resolvi enaltecer os nomes das vítimas
que morreram e que tiveram suas vidas ceifadas injustamente. Elas sim devem ser
lembradas com carinho, dignidade e com a esperança de que seus nomes serão para
sempre honrados.
Fotos: Reprodução/foto nº1 - G1.globo e foto nº 2 - Yahoo Notícias
Fontes:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52832621
https://www.youtube.com/watch?v=EwMA5yFXxHg
https://www.conjur.com.br/2021-nov-25/estado-eua-libera-porte-armas-restricoes
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