Uma grande mulher
"Quando às vezes me perguntam quando haverá o suficiente [juízas na Suprema Corte dos Estados Unidos] e eu digo: 'Quando houver nove', as pessoas ficam chocadas. Mas houve nove homens, e ninguém nunca levantou uma questão sobre isso". - Ruth Ginsburg
O
que mais me impressionou a respeito da morte da juíza norte-americana, Ruth
Bader Ginsburg, foi a quantidade de cidadãos que foram prestar condolências e homenagens
em frente a Suprema Corte Americana. Toda esta aglomeração de pessoas me chamou
bastante atenção para o fato de que ela era uma figura pública muito querida e
admirada. E me questionei se já houve algum juiz brasileiro que tenha sido tão
admirado pela população pelo trabalho que desempenhou em vida como Ruth foi
nestes últimos dias.
Confesso
que antes de sua morte, que ocorreu nesta sexta-feira (18/09), eu nunca tinha
ouvido falar desta juíza norte-americana, mas fiquei encantada com as homenagens
que inúmeras pessoas fizeram nas redes sociais, descrevendo uma mulher de personalidade
forte, convicções, valores morais e que se destacou dentro de um espaço
predominantemente masculino como a Suprema Corte Americana.
Eleita
pelo ex-presidente Bill Clinton em 1993, Ruth Ginsburg sempre atuou em
temáticas complexas, defendendo o direito das mulheres, dos homossexuais, do
aborto, dentre outros, tornando-se um verdadeiro ícone para os liberais
norte-americanos. A sua morte, portanto,
representa um desiquilíbrio dentro da Suprema Corte, uma vez que é composta atualmente
por cinco juízes republicanos (dois eleitos pelo atual Presidente Donald Trump)
e três juízes democratas.
Segundo
a National Public Radio, antes de morrer, Ruth expressou o desejo de que sua
vaga no tribunal fosse preenchida somente após as eleições para Presidente dos
Estados Unidos, que ocorrerá no dia 03/10/2020. Contudo, o Presidente Trump já
se pronunciou com intuito de acelerar a eleição do novo juiz que irá
substituí-la, indicando dois candidatos para preenchimento da vaga.
Caso
Trump consiga esta façanha, terá a terceira nomeação de juiz dentro do
tribunal, expandindo ainda mais a influência do pensamento conservador,
trazendo uma incerteza sobre as novas decisões da Corte com relação aos
assuntos mais complexos e possível retrocesso de algumas conquistas como por
exemplo, a descriminalização do aborto, obtida desde 1973.
Vale
ressaltar que compete ao Presidente dos Estados Unidos escolher o juiz que irá
compor uma das cadeiras da Suprema Corte, desde que tenha a aprovação do
Senado. Deste modo, o partido Democrata defende que a vaga de Ruth Bader Ginsburg
deve ser preenchida somente após as novas eleições presidenciais, pois como o
atual Presidente e a maioria do Senado pertencem ao mesmo partido político (53
senadores republicanos ante 47 democratas), caso aconteça antes, há uma chance
muito grande do Senado aprovar o candidato de Donald Trump como meio de troca
de favores políticos.
Em
um momento tão delicado em que a sociedade vive com a pandemia do coronavírus e
os impactos causados na atividade política e econômica de diversos países, a
morte de Ruth pode piorar ainda mais a tensão político-social em que os Estados
Unidos está enfrentando há meses. Esta problemática acontece devido ao fato do
cargo de juiz da Suprema Corte ser vitalício e a eleição do novo substituto
pode alterar em definitivo o rumo das decisões jurídicas do país.
Ruth
Ginsburg era a juíza mais velha e a segunda mulher a ser nomeada para o
tribunal norte-americano, morrendo aos 87 anos de vida. Após enfrentar diversos
problemas de saúde, realizando tratamentos para dois tipos de câncer, ela
finalmente descansou em paz. Entretanto, deixou um legado com várias conquistas
em prol da igualdade de gênero, imigração, aborto e casamento gay.
Incrível
pensar que mesmo com todo sofrimento e debilidades decorrentes da doença e com
as limitações da própria idade, ela demonstrou em seu leito de morte, amor a
sua profissão e preocupação com o futuro de sua nação. Considerada feminista e
a progressista da mais alta Corte dos Estados Unidos, foi uma mulher
surpreendente e merecedora de toda admiração, respeito e reconhecimento pelo
seu trabalho.
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54221600
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54221595
Foto:
Reprodução/The New Yorker
Comentários
Postar um comentário