O tombamento de um gigante
Enquanto
nos Estados Unidos, a população estava destruindo estátuas de escravagistas em
razão do movimento negro “Black Lives Matter” para combater o racismo estruturado
no país e retirar as esculturas feitas em homenagem a antigos navegadores da
época colonial; no Brasil, obra que condecora artistas e escritores brasileiros
é depredada no estado de Pernambuco.
É
com grande pesar que escrevo sobre a depredação da estátua do escritor Ariano
Vilar Suassuna, localizada na Rua da Aurora (área central de Recife), que teve
as pernas quebradas por atos de vandalismo nesta segunda-feira (21/09). A escultura
faz parte do Circuito da Poesia, obra do artista plástico Demétrio Albuquerque,
composta por 17 estátuas espalhadas pela cidade. Ícones da cultura brasileira
como os escritores Manuel Bandeira, Clarice Lispector e os músicos Luiz Gonzaga
e Chico Science também tiveram suas imagens lapidadas em cerâmica, aço e
concreto pelo artista.
Apesar de ambos os casos tratarem da
destruição de patrimônio público, não há como não distinguir a diferença de ideologias
por detrás de cada ação. Não estou justificando os atos de ninguém, até mesmo
porque não sou a favor a nenhum tipo de violência, seja de qual natureza for. Entretanto,
é lastimável que nem ao menos se tenha um motivo plausível para alguém querer
destruir a estátua do escritor, defensor da cultura e do povo brasileiro.
Talvez por ignorância e total desconhecimento
das obras escritas pelo dramaturgo, o vândalo, a seu bel prazer, arrancou os
pés da estátua por puro divertimento, mal sabendo ele que Suassuna foi
consagrado pelo seu humor – característica forte de sua personalidade e bastante
presente em sua obra-prima: “O Auto da Compadecida”, exibida como minissérie pela
emissora de televisão, Rede Globo (1999) e adaptada posteriormente para o
cinema (2000).
Como o próprio escritor reagiria a uma situação inusitada como esta? Provavelmente, teria rido da ignorância do povo brasileiro ao mesmo tempo em que perdoaria seu algoz em razão da falta de estudos de qualidade e de maiores incentivos para a educação no país.
De início, confesso que não concordei com a destruição das estátuas nos Estados Unidos, pois acredito que reagir com hostilidade contra atos racistas, só contribui para que o conflito existente se intensifique ainda mais ao invés de ser solucionado. Além de que, a depredação destas imagens não irá apagar o histórico de chacina de milhões de negros escravizados. Contudo, compreendo que não se trata simplesmente do desfazimento das esculturas, mas sim, da força opressora da escravidão que elas ainda representam na sociedade atual.
Coitado
de Ariano Vilar Suassuna, será que foi confundido com um escravagista daquela
época? Será que o vândalo assistiu aos noticiários sobre o movimento negro nos
Estados Unidos e quis reproduzir o mesmo tipo de comportamento no Brasil como
uma forma de protesto? Nas palavras do icônico e engraçadíssimo personagem Chicó:
- “Não sei, só sei que foi assim”!
A polícia ainda não identificou o agente responsável pelo delito, mas o desfecho desta história ainda não chegou ao fim. É uma pena que a estátua tenha sido em parte destruída, desrespeitando não só a imagem do admirável e talentoso escritor – eleito para a cadeira n° 32 da Academia Brasileira de Letras, como também o trabalho do próprio artista que a construiu.
Segundo a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (EMLURB), a prefeitura gasta anualmente cerca de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) com a manutenção e reparação de obras, tais como monumentos, pontes e edificações públicas que sofreram ações de pichação e vandalismo. Um valor considerável que poderia ser utilizado para atender outros setores e demandas da população local, mas que é direcionado para resolver estes tipos de problema. Uma lástima.
Fontes:
https://www.ebiografia.com/ariano_suassuna/
Foto: Reprodução/G1.globo.com
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