Combate ao sexismo no esporte
“Prova disso é a projeção feita pelo Fórum Econômico Mundial no fim de 2018: ainda serão necessários mais de dois séculos para haver igualdade entre os gêneros no trabalho. Já em outras áreas, como acesso à educação, saúde e representação política, as disparidades entre homens e mulheres precisarão de 108 anos para chegarem ao fim”. – Tata Pinheiro
Apesar desta projeção feita pelo Fórum Econômico
Mundial, há quase dois anos atrás, não ser muito encorajadora, ressalta-se que
a história de luta das mulheres por direitos iguais é marcada por infinitas
conquistas ao longo da história. E mesmo que algumas delas tenham sido obtidas as
duras penas e demorado muitos anos para se concretizarem, a verdade é que as
mulheres vêm conquistando espaços que antes eram reservados apenas aos homens.
Desde a inserção da mulher no ensino superior
educacional, um dos acontecimentos históricos divisor de águas, o gênero
feminino abriu portas para tantas outras vitórias ao longo do caminho. Contudo,
enquanto nos Estados Unidos as mulheres tiveram acesso às universidades em
1837, no Brasil, só foi possível a entrada delas, autorizada por lei, quarenta
e dois anos depois.
Este grande marco foi responsável por emancipar
as mulheres que antes eram relegadas tão somente à esfera doméstica, sem
nenhuma participação político-social.
Outro triunfo bastante significativo foi o
direito ao voto. A reivindicação em prol de participação da mulher na política
e do direito ao sufrágio universal ocorreu simultaneamente em vários países da
Europa e nos Estados Unidos no início do século 19, entretanto, no Brasil este
direito só foi adquirido em 1932, após dez anos de muita luta e por meio da
Constituição Federal. Para muitos este foi o início do feminismo, movimento que
defende a igualdade de gênero, combatendo de forma veemente o sexismo e o
machismo.
No âmbito do trabalho também não seria
diferente. Após o incêndio numa fábrica têxtil em Nova Iorque (1911), que matou
130 operárias, várias mulheres se indignaram e protestaram nas ruas para
questionar a falta de infraestrutura, baixos salários, maus-tratos e jornadas
de trabalho muito elevadas. Em 8 de março de 1917, ocorreu um protesto na
Rússia, intitulado “Pão e Paz”, em que 90 mil operárias se reuniram em busca de
igualdade. Data que se tornou mundialmente conhecida por homenagear as mulheres
pelo seu histórico de luta, força e resiliência.
Recentemente, a Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) anunciou a medida de igualdade salarial feita entre as seleções
feminina e masculina de futebol. Um progresso que vem sendo almejado por várias
atletas há anos, não só do Brasil, mas de outros países também. Fenômenos do
futebol brasileiro, a exemplos de Marta, Formiga e Cristiane estão dentre as
jogadoras que exigem melhorias de tratamento dentro e fora de campo.
Esta questão não se refere apenas para a
obtenção de melhores salários, mas sim, do reconhecimento do talento e do trabalho
que muitas profissionais do esporte exercem, na maioria das vezes sem qualquer patrocínio,
visibilidade ou infraestrutura para treinar e jogar.
Desde março deste ano, o Presidente da CBF,
Rogério Caboclo, se pronunciou afirmando que a equipe feminina receberá as
mesmas diárias e premiações que a dos homens durante as convocações para as
próximas Olimpíadas. Uma lástima pensar que a Copa do Mundo de Futebol Feminino,
um evento de grande porte, não foi incluída nesta nova medida. O que só
evidencia a desigualdade que impera em vários esportes, não só no futebol, em
que as atletas ganham muito menos do que seus colegas, exercendo as mesmas funções.
Segundo apuração da Folha de S. Paulo realizada
há três atrás, o time masculino ganhava R$ 500,00 por jornada de treino no Brasil, enquanto
que a seleção feminina ganhava apenas a metade. Com relação aos treinos no
exterior, os jogadores masculinos ganhavam em torno de U$$ 1.600,00 dólares,
sendo que as atletas continuavam a ganhar R$ 250,00, ou seja, um valor bem
abaixo da remuneração dos homens!
Desde a Copa do Mundo Feminino (2019), as jogadoras
da seleção brasileira mostraram atitudes proativas dentro de campo usando
batons e chuteiras sem vínculo com patrocinadores de qualquer marca de material
esportivo. Para quem não recorda deste fato, vale a pena lembrar o gesto que a
jogadora Marta fez ao apontar o dedo para sua chuteira durante o jogo contra a
Austrália, momentos após ter feito um gol.
Na chuteira havia um símbolo representando o
combate à discriminação de gênero no esporte. Este protesto da jogadora, eleita
seis vezes a melhor do mundo, se deu em razão das propostas de renovação de
contrato de diversos patrocinadores terem sido desproporcionais aos valores
oferecidos para colegas de várias modalidades esportivas com a mesma
representatividade que a atleta, a camisa número 10 da seleção brasileira de futebol
feminino.
Além da equiparação salarial, a modalidade também
celebra a contratação de duas mulheres para coordenar a seleção feminina de
futebol, as ex-atletas Duda Luizelli e Aline Pellegrino. Que estas sejam as
primeiras de muitas mudanças que ainda precisam ser feitas no âmbito do
esporte, enaltecendo a capacidade das mulheres de serem grandes gestoras e
ícones do futebol brasileiro.
Fontes: www.novaescola.org.br e www.brasil.elpais.com
Foto: Reprodução Reuters/Jean-Paul Pelissier
Comentários
Postar um comentário