Tributar livros: custeando a educação
Há
tempos a reforma tributária tornou-se uma notícia pavorosa para muitas pessoas,
por trazer mudanças em alguns setores do ordenamento jurídico brasileiro.
Recentemente, houve uma proposta no Congresso Nacional de acabar com a isenção
de contribuição para livros, substituindo a cobrança do PIS e Cofins por um
novo imposto chamado Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços
(CBS).
Desta
maneira, caso a proposta de lei seja aprovada, haverá uma cobrança de 12% ao
ano sobre os bens e serviços do mercado editorial de livros no Brasil. E a
partir deste contexto, surgiram vários protestos, em especial, de diversas
livrarias e distribuidoras, com relação a possibilidade de inclusão deste novo
imposto.
Antes
de adentrar no âmago da questão, vale destacar a incongruência desta proposta
indecente feita pelo Governo Federal, principalmente por se tratar de um país cujo
sistema educacional é totalmente precário, desvalorizado e com alta porcentagem
de analfabetos e semianalfabetos.
Vale
ressaltar que o Brasil também possui baixos indicadores de leitura, ou seja, a
estimativa de brasileiros que consomem livros não é alta em comparação com
outros países, inclusive, os correlacionados a América Latina. E mesmo havendo
um acréscimo entre 2011 e 2015, o percentual de aumento não foi tão
representativo assim, com base na pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”,
feita pelo Instituto Pró-Livro em 2016.
Com
base nesta pesquisa, realizada a cada quatro anos, o brasileiro costuma ler em
média, 4,96 livros por ano, sendo que muitos não finalizam a leitura ou leem
por obrigação. Em sua maioria, tratam-se de livros didáticos (técnicos,
universitários), religiosos, contos e romances, não abarcando o universo dos
consagrados livros de literatura.
Porém,
nestes cinco meses em que a população ficou de quarentena, sem poder sair de
casa, houve um aumento considerável das vendas online de livros físicos durante
a pandemia, especialmente no mês de julho, de acordo com os dados de um estudo feito pela Nielsen, apresentados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
Somado
a tudo isso, vem a questão da crise que o livro físico vem sofrendo ao longo
dos anos com o advento de novas tecnologias e plataformas digitais que
possibilitam a leitura de livros por meio de smartphones, tablets e kindles.
Deste modo, o mercado editorial de livros vem perdendo espaço e clientes para
concorrentes de outros setores do mercado.
É de conhecimento público de que grandes empresas como a Livraria Cultura e Saraiva fecharam várias lojas pelo país inteiro em decorrência da diminuição das vendas de livros, CD’s e Dvd’s físicos e, em razão do aumento acelerado do consumo digital destes produtos no Brasil e no mundo. Portanto, adicionar um imposto como o CBS nas vendas de livros impressos, só agravará ainda mais os problemas existentes para as livrarias e distribuidoras, sendo que o valor das obras para o consumidor final se tornará ainda mais alto.
A
partir deste debate, surge também outra reflexão importante sobre o acesso à
informação e à cultura, que se tornará ainda mais restrita por conta do elevado
valor dos livros físicos. Desta forma, apenas uma pequena parcela da população poderá
arcar com os custos relacionados a educação e formação acadêmica, agravando a
desigualdade social existente entre a classe média, alta e a classe baixa. Esta
última seria a mais prejudicada de todas.
O
Ministro da Economia, Paulo Guedes, se posicionou a favor da inclusão do novo
imposto ao sugerir que o Governo Federal poderá aumentar o valor do Bolsa
Família, para compensar o fim da isenção ou até mesmo criar um programa de
doações de livros (informações da Agência Senado). Contudo, como a população de
baixa renda arcará com os altos custos, uma vez que não tem acesso aos livros
de qualidade e muitas das vezes, as doações (quando há) não suprem as reais
demandas da população mais carente?
Outra
pergunta que não quer calar: Qual será o destino dos livros impressos? Serão de
fato extintos com o tempo? Aos amantes e eternos defensores dos livros físicos,
vale ressaltar que uma corrente está sendo feita nas redes sociais para
criticar a proposta do Governo e impedir que ela seja aprovada no Senado.
É
a partir da leitura e da obtenção do conhecimento que as pessoas se desenvolvem
enquanto indivíduos e, segundo o Senador Fabiano Contarato (Rede – ES): - “A
imunidade tributária dos livros democratiza o saber, assegura a livre difusão
de conhecimento e evita que o governo de plantão use os impostos para cercear
obras críticas” (Agência Senado).
Concordo
plenamente com estas sábias palavras que aqui defendo e, me contento com a
ideia de que há senadores que pensam no coletivo e votam em prol de mudanças
que irão beneficiar a população. Esta foi a primeira proposta, de outras que
ainda virão, havendo até o momento uma discordância muito grande entre os
senadores sobre a aplicação deste novo imposto ou não.
É
de certo que uma reforma tributária é necessária para a retomada da economia do
país após a pandemia, entretanto, caso o projeto de lei que impõe o imposto de
12% ao ano sobre a venda de livros impressos seja aprovado, poderá prejudicar enormemente
o segmento editorial no Brasil e, segundo o Senador Jader Barbalho (MDB – PA):
- “Não há educação sem livros, sem leitura, sem conhecimento” (Agência Senado).
Foto: Ilustradora Flora Próspero/Instagram @floraprospero
Comentários
Postar um comentário