A saudação de uma era
É
surpreendente como alguns fatos históricos se repetem na trajetória da humanidade,
nos fazendo questionar determinados acontecimentos na tentativa de buscar
soluções para conflitos existentes; defender valores moralmente razoáveis,
críveis e respeitosos e, coibir tudo que vai de encontro a construção de uma
sociedade mais justa, igualitária e menos preconceituosa.
O célebre protesto antirracista, realizado
pelo ex-atleta John Carlos e seu companheiro Tommie Smith nos Jogos Olímpicos
do México (1968), deixou uma marca registrada no âmbito esportivo, mas que
reverberou em várias outras áreas para além do esporte, seja nos Estados Unidos
ou em qualquer outra parte do mundo. E mesmo após 52 anos deste feito, a sua repercussão
ainda possui uma forte influência na sociedade, de modo a inspirar novos
manifestos em prol da luta da comunidade negra contra o racismo nos Estados
Unidos.
Na
quarta-feira (26/08) diversos jogadores de basquete do Milwaukee Bucks decidiram
boicotar o jogo contra o Orlando Magic em razão do que aconteceu com o cidadão
afro-americano Jacob Blake, de 29 anos, baleado sete vezes pelas costas por um
policial branco. Outros times da NBA (National Basketball Association – em português,
Associação Nacional de Basquetebol) também se juntaram a esta causa e, como consequência,
diversos jogos que estavam agendados para quinta-feira (27/08) e sexta-feira (28/08) foram adiados.
Este
boicote chamou a atenção da mídia e dos próprios dirigentes da NBA em razão do
basquete ser um esporte que movimenta milhões de dólares anualmente e pelo fato
da maior porcentagem dos jogadores serem afro-americanos. Portanto, não houve
surpresa com relação ao envolvimento dos times no movimento negro intitulado “Black
Lives Matter” (Vidas Negras Importam) e por terem aderindo ao boicote em tão
pouco tempo.
O
jogador da camisa 23 do Los Angeles Lakers, LeBron James se aborreceu com um
dos depoimentos dado pela NBA no Tweeter e, retrucou dizendo que não se trata
de um simples adiamento das partidas, mas sim, de um verdadeiro boicote que
cogita a suspensão da temporada de basquete norte-americana. Além disso, também
exigiu maior engajamento dos empresários e donos dos times da liga.
Desde
a morte de George Floyd em 25/05/2020, diversos atletas estão totalmente envolvidos
no movimento negro, utilizando camisetas com frases que clamam por justiça
social e se ajoelhando durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos
como uma forma de protesto e solidariedade para com as vítimas da brutalidade
policial no país, em todas as partidas.
Atletas
de outros esportes também aderiram ao movimento, a exemplo da Major League
Baseball e da tenista Naomi Osaka, de 22 anos, que abandonou as semifinais do
Cincinnati Open na quarta-feira (26/08) como uma forma de protesto contra o
racismo. Em suas redes sociais, afirmou que antes de ser uma atleta
profissional, é uma mulher negra e que outros assuntos mais importantes merecem
a atenção do que jogar uma partida de tênis.
É
muito reconfortante ver que muitos atletas possuem consciência da
responsabilidade social e do poder de transformação que o esporte tem na
sociedade, utilizando-se de seus respectivos status, influência e dinheiro para auxiliar aqueles
que necessitam de ajuda, seja financeira, jurídica ou apoio moral. Por meio de
suas ações e protestos demonstram o quanto é mais importante vencer outras lutas
e desafios que existem para além das quadras e gramados. A maior de todas as
lutas é a busca por uma sociedade mais justa, empática e tolerante com as diferenças
culturais e sociais.
A
saudação dos ex-velocistas, John Carlos e Tommie Smith levantando um dos braços
para cima usando uma luva negra no pódio, custou a expulsão de ambos dos Jogos
Olímpicos pelos dirigentes do Comitê Olímpico da época, mas ao mesmo tempo
representou a força, determinação e resiliência da comunidade negra para pôr
fim as injustiças sociais e discriminações em razão da cor da pele.
A
NBA já anunciou o retorno dos jogos dos playoffs neste sábado, contudo, os
atletas deixaram o recado de que não estão satisfeitos com o contexto atual em
que a sociedade norte-americana vivencia as tensões raciais no país por meio da
brutalidade policial para com cidadãos negros e que farão tudo o que estiver ao
alcance de cada um deles para impedir que mais casos como o de Jacob Blake, Breonna
Taylor e George Floyd continuem se repetindo.
Segundo o site de notícias Uol a diretoria executiva da NBPA (Associação Nacional de Jogadores de Basquete), Michele Roberts, e o comissário da NBA, Adam Silver fizeram um acordo com os jogadores, se comprometendo a realizar ações sociais que tem como objetivo reformar o sistema da polícia norte-americana. Em razão desta negociação, os jogadores concordaram em dar continuidade aos jogos.
Que recomecem as emocionantes partidas da principal liga de basquete da América do Norte, pois as novas regras já foram estabelecidas. Vidas negras importam.
Foto: Reprodução/Getty Images
Comentários
Postar um comentário