Nova campanha da Natura e sua repercussão polêmica

O dia dos pais está próximo e a revelação da contratação do homem transgênero, Thammy Brito de Miranda Silva, para participar da nova campanha da Natura está dando o que falar nas redes sociais. O que mais me intrigou foi a quantidade de pessoas reagindo de forma negativa, aversiva e preconceituosa com relação à participação do trans na campanha especial para o dia dos pais.

Não é nenhuma novidade de que o filho de Gretchen passou por um processo de mudança de gênero já algum tempo, tornando-se homem por meio de tratamentos hormonais para crescimento de pelos, cirurgia para retirada dos seios e provável aplicação de implante peniano. Atualmente, o ator convive com a mulher e ambos tiveram recentemente um filho, gestado pela esposa Andressa Ferreira.

            É surpreendente o quanto a evolução da tecnologia vem possibilitando a mudança de sexo, transformando mulheres em homens e vice-versa. Todavia, para muitas pessoas, esta transformação é algo inimaginável e inconcebível. Contudo, já é uma realidade não só do Brasil como em diversos países no mundo inteiro.

O espanto não foi o fato de Thammy Miranda ter sido contratado pela Natura para representar uma parcela de pais que existe pelo mundo afora e que são reais, mas sim, a quantidade de pessoas que não aceitam o fato de que Thammy seja homem e também pai, uma vez que seu tão esperado filho Bento Ferreira de Miranda nasceu em janeiro deste ano. 

Houve uma postagem de um internauta no Instagram que me chamou bastante a atenção ao afirmar que: "A campanha da Natura com o Thammy não representa os pais brasileiros". E me pergunto por que não representaria? Afinal de contas, qual o verdadeiro conceito de pai? E aqui não faço referência nem ao sentindo etimológico da palavra, pois de acordo com o Dicionário Online de Português, pai significa: "homem que gerou um ou mais filhos; genitor; progenitor". 

Vale ressaltar que o ordenamento jurídico não faz diferenciação entre filhos naturais e adotivos. Portanto, casais heterossexuais ou homossexuais que adotam crianças, também exercem a paternidade de forma plena.

Também li nas redes sociais de que esta campanha não deve ter tanta importância, pois o país deveria estar mais preocupado com centenas de milhares de crianças que são abandonadas, maltratadas e até mesmo abusadas sexualmente pelos pais; de que a paternidade brasileira é representada de forma massiva por pais ausentes e totalmente violentos.

            Concordo que são questões de extrema relevância e que merecem ser amplamente discutidas de modo a se buscar soluções que amenizem estes problemas sociais. Entretanto, não acredito que a generalização seja o melhor caminho, pois mesmo que haja muitos "pais" que maltratem ou não reconheçam legalmente seus filhos,  há tantos outros homens que são verdadeiros PAIS e que exercem a paternidade com muito amor, responsabilidade e afeto.

 Não há como deixar de mencionar os inúmeros pais e mães solteiras que fazem dupla jornada de papéis no que se refere à criação e educação dos filhos. Eles merecem um reconhecimento a mais por todo esforço e dedicação dobrados. Contudo, já existe uma data especial para homenagear as mães, sendo este espaço voltado exclusivamente para enaltecer os pais que desempenham um papel tão importante quanto as mães, mas que muitas das vezes, fica ofuscado pela maternidade.

No dia dos pais, devemos homenagear aqueles que de fato são considerados PAIS e aqui trago um sentindo muito mais amplo do que o dicionário, pois pai é aquele que cuida, zela, ama e respeita seus filhos. É aquele que se preocupa com o filho doente, que gosta de brincar com ele, que adverte a criança quando ela faz algo errado, que chora quando vê o filho sofrendo e que ri nos momentos de alegria. 

E por meio destes exemplos, um pai pode ser um avô, tio, padrasto, irmão mais velho ou até mesmo um amigo que aconselha, marca presença nas horas mais precisas, que abraça, acolhe e compartilha momentos da vida, sejam eles bons ou ruins. 

Portanto, vamos deixar para discutir sobre pais ausentes, negligentes e violentos nos trezentos e sessenta e quatro dias restantes do ano, pois no dia dos pais, vamos prestigiar aqueles que são verdadeiros PAIS e não apenas genitores. 

A Natura não foi a primeira e nem será a última marca a criar uma campanha como esta, tratando de inclusões sociais tão importantes e acima de tudo, retratando o amor em sua forma plena, independentemente de gênero. Este gesto, mesmo que publicitário, não diminui a marca, muito pelo contrário, só demonstra o quanto ela está atualizada e preocupada com as questões sociais do país ao incluir no seu público, a paternidade de pessoas trans. 

Foto: Reprodução/Instagram/@thammymiranda