Acende a luz, por favor!
A triste situação do Amapá evidencia a invisibilidade que os estados do Norte do Brasil ainda enfrentam diante de outras regiões consideradas mais importantes e ricas. Na mídia televisiva pouco se falou sobre o assunto, a tal ponto das redes sociais terem sido as verdadeiras protagonistas no movimento de cooperação e divulgação dos fatos que estavam ocorrendo na capital amapaense e regiões metropolitanas. Muitos usuários do Instagram e Twitter, assim como diversas celebridades brasileiras, foram responsáveis por divulgar e compartilhar informações sobre a real condição do Amapá.
Desde
a terça-feira (03/11), o Estado do Amapá tem vivido o caos após a ocorrência de
um incêndio, ainda sem causa identificada, nos transformadores de energia da subestação
de Macapá (capital). Dos três transformadores existentes, apenas dois estavam
ativos, sendo que um deles foi totalmente destruído pelas chamas e o segundo
foi parcialmente danificado. O terceiro equipamento (reserva) também sofreu
danos, apesar de estar inativo desde dezembro do ano passado por questões de ordem
técnica.
Segundo o site de notícias Agência Brasil, o transformador destruído pertencia à empresa concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), que era controlada pela companhia espanhola Isolux. Com relação ao segundo equipamento que estava ativo, os danos parciais impossibilitaram o reaproveitamento das peças para reativação da subestação. Entretanto, de acordo com o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, será possível recuperá-lo desde que seja realizado o tratamento na bucha de conexão do transformador de energia com a rede.
Lamentavelmente,
o início do mês de novembro foi marcado com o apagão decorrente do incêndio que interrompeu o fornecimento de energia elétrica em treze
dos dezesseis municípios amapaenses. O Governo do Amapá, portanto, decretou
situação de emergência e o prefeito de Macapá, Clécio Luís Vilhena Vieira (sem
filiação partidária), decretou na quinta-feira (05/11), estado de calamidade
pública na capital por trinta dias.
Por
meio deste decreto, o Governador, Antônio Waldez Góes da Silva (PDT), buscou
meios e medidas alternativas para amenizar os efeitos catastróficos da falta de
energia que assola todo o Estado. As principais providências de urgência são: 1)
contratação de gerador de energia emergencial para áreas mais críticas; 2)
distribuição de água potável para a população, uma vez que o fornecimento de
água também foi afetado pela falta de eletricidade e 3) distribuição de combustível
para o abastecimento dos gerados contratados e para a demanda local dos cidadãos
com relação a compra de gasolina.
O Prefeito de Macapá disponibilizou carros-pipa para
abastecer água às famílias de bairros periféricos das zonas norte e sul. Após o pronunciamento da prefeitura nas redes sociais,
solicitando o aluguel de mais carros-pipas, o município contou com a atuação de
oito veículos para fornecer água. O Governo do Amapá também disponibilizou mais
de 400 mil frascos de hipoclorito à população dos 16 municípios do Estado para
tornar a água própria ao consumo, visto que muitas pessoas não encontraram água
potável para beber, buscando em lagos e rios.
Até
poucos dias atrás, o clima estava bem tenso na região devido aos inúmeros transtornos
causados pela falta de energia, dentre eles: calor insuportável, perda de
alimentos refrigerados e congelados, falta de água, falta de combustível nos
postos de gasolina, falta de internet e meios de comunicação. Este último
problema fez com que muitas pessoas se deslocassem até o aeroporto de Macapá
para carregar seus celulares e ter acesso ao wi-fi disponibilizado no
estabelecimento, meio pelo qual muitos pediram socorro nas redes sociais.
Segundo
o Ministério de Minas e Energia, cerca de 85% da população amapaense foi afetada
pela falta de energia (aproximadamente 730 mil pessoas do total de 860 mil
habitantes). Contudo, este número já subiu para 765 mil (equivalente a 90% da
população), com base nas informações relatadas pelo portal de notícias G1.
O
primeiro plano do Governo Federal foi justamente recuperar o transformador
danificado, cujo óleo precisa passar por tratamento feito por máquinas
especiais. De acordo com o Governo, estas máquinas seriam transportadas na
quinta-feira (05/11) pela Força Aérea Brasileira para dar início aos reparos do
equipamento e com isso, reestabelecer cerca de 60% a 70% da carga elétrica do
Estado.
Até o presente momento, a subestação de Macapá voltou a funcionar apenas com um transformador em conjunto com hidrelétrica, embora, o Ministro de Minas e Energia garantiu, na sexta-feira (06/11), que reestabeleceria toda a energia em dez dias.
O Governo estabeleceu uma solução provisória para a população,
que implica no fornecimento de luz por meio do sistema de rodízio com duração
de seis horas por região até o reestabelecimento integral de energia. Contudo,
moradores de algumas regiões já criticaram o sistema devido ao fato da energia ter
durado muito menos do que o previsto pelo cronograma do Estado, ainda inviabilizando
o retorno das pessoas às suas rotinas do dia a dia.
Várias manifestações foram feitas em diversas
cidades do Amapá, algumas com queima de pneus, como ocorreu no município de
Santana (a 20 km da capital), na madrugada de domingo (08/11). Os protestos
foram realizados com o intuito de chamar a atenção das autoridades locais para
os problemas da população que já estava no quinto dia sem energia elétrica.
Embora a situação ainda não esteja totalmente normalizada, medidas estão sendo tomadas para solucionar este problema tão complexo. Aliás, esta problemática suscita a questão sobre a delegação dos serviços essenciais pela Administração Pública a terceiros, em que a primeira transfere por contrato (concessão) ou por ato unilateral (permissão ou autorização) a execução do serviço público. Em outras palavras, serviços que são de responsabilidade do Estado, mas que são realizados por empresas privadas.
A falta de manutenção da Linhas de
Macapá Transmissora de Energia para com o transformador reserva, por exemplo, sinaliza
a negligência e o descuido da empresa com um serviço tão importante. Por outro
lado, a precária fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) sobre
a atuação da empresa com base na situação fatídica, em que um transformador de
energia está há quase um ano dependendo de manutenção, também corrobora para a
falta de aplicação de normas mais rigorosas do Poder Público sobre a
terceirização de seus serviços.
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54843654
https://noticias.r7.com/brasil/sem-energia-eletrica-situacao-no-amapa-e-de-zona-de-guerra-08112020
Foto: Artista Nando Motta/Instagram
@desenhosdonando
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