Revolução chilena e a reforma constitucional



A história do povo chileno é marcada por várias lutas populares em busca de um governo mais justo, democrático e igualitário para todos os cidadãos, independentemente da classe social, etnia e ideologia política. Recentemente, o grande manifesto conhecido como “Estallido Social” (Estouro Social), iniciado em 18 de outubro de 2019, ensejou no plebiscito que votou a favor da reforma da Constituição Chilena.

Com a aprovação esmagadora da maioria de votos do eleitorado (78%), a população concordou com a alteração da atual Carta, datada de 1980, herança residual e mórbida da ditatura de Augusto Pinochet. Uma das maiores insatisfações do povo, inclusive, era o fato da Constituição, lei maior e suprema de um Estado, ter sido originada ilegalmente por meio de uma ditadura militar. 

Apesar da Carta Constitucional já ter sido alterada duas vezes (1989 e 2005), ainda não contempla e nem assegura de maneira contundente, diversos direitos e garantias fundamentais para os cidadãos, motivo pelo qual o país enfrentou, até poucos dias atrás, protestos eloquentes em várias regiões com muitos feridos em razão do constante embate com a polícia.

Entretanto, graças às inúmeras manifestações de rua, sentimento combatente e poder de resiliência dos chilenos, especialmente, dos jovens, o país passará por uma mudança significativa e muito positiva na política e vários outros setores fundamentais da sociedade.

 Não há como deixar de mencionar sobre o grande golpe de 1973, em que culminou no assassinato do Presidente Salvador Allende e no fim do socialismo democrático tão defendido pela Unidade Popular (UP) - governo criado pela coalizão de cinco partidos de esquerda chilena. Antes mesmo do dia 11 de setembro daquele ano, opositores políticos tentaram outros golpes para impedir a eleição de Allende como Presidente do Chile em 1970.

Embora Salvador Allende não tenha sobrevivido ao ataque que sofreu enquanto estava no Palácio de La Moneda, que fora destruído por uma bomba, deixou um legado importante com relação à economia do país ao estatizar várias empresas autogeridas pelos próprios trabalhadores com o apoio do Estado; melhorou a qualidade de vida do povo por meio de redistribuição de terras; diminuiu o analfabetismo por meio da enorme mobilização de estudantes e educadores para ensinar, descentralizando a educação que era destinada a um pequeno grupo da sociedade.

No mês de setembro deste ano, portanto, foi comemorado os 50 anos do triunfo eleitoral de Allende, grande marco na política do Chile que contribuiu significativamente para a população, no que diz respeito a construção do trabalho coletivo, vida comunitária e formas cooperativas de sociabilidade em prol do bem-estar de toda uma nação.

Naquela época, a música “Canción del poder popular” do grupo musical Inti-Illimani tornou-se um hino de indignação, protesto e luta dos cidadãos que buscavam desesperados por um Chile diferente para o povo trabalhador, humilde e sofrido. Com base na letra musical, não se travava apenas de mudar de presidente, mas sim, do próprio povo construir um Chile melhor para si.

Após os massivos massacres dos manifestantes iniciados em 2019, o plebiscito sobre nova Constituição finalmente ocorreu no domingo (25/10), alterando o rumo da história do país. A Assembleia Constituinte será formada em um novo pleito em abril de 2021 com paridade de gênero para iniciar as reformas da atual Carta.

Infelizmente, muitas pessoas se sacrificaram no meio do caminho para que esta grande vitória fosse alcançada, contudo, o brilho da revolução chilena evidencia a superação de um povo, a devoção dos cidadãos chilenos à pátria amada e a esperança por dias melhores.

 

Fontes: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/23/internacional/1574543096_923129.html

https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/salvador-allende-e-o-brilho-da-revolucao-chilena/

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/10/26/chile-aprova-plebiscito-historico-por-que-e-tao-polemica-a-constituicao-que-78-dos-chilenos-decidiram-trocar.ghtml

https://www.youtube.com/watch?v=IoAErN6jYQs

 Vídeo: Reprodução/youtube

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