A despedida
Para
quem nunca ouviu falar em Mafalda, a garotinha de apenas seis anos de idade que
revolucionou o mundo com seus questionamentos e reflexões sobre política, economia,
sociedade e educação – não sabe que se trata de uma das maiores personagens latino-americanas
das tirinhas em quadrinhos – criação do cartunista argentino Joaquín Salvador
Lavado Tejón, mais conhecido como Quino.
É
surpreendente como uma personagem de tenra idade conseguiu cativar tantos
leitores pelo mundo inteiro, principalmente por abordar temas tão complexos. O sucesso
de Mafalda, no entanto, evidencia o brilhante trabalho de Quino ao mesclar
humor, conscientização político-social e sarcasmo com a doçura e a curiosidade
inerentes de uma criança que de ingênua, não tem nada.
Aliás,
a pequena sempre demonstrou ser uma menina de opiniões fortes, questionando
tudo e a todos, inclusive, seus pais, para entender melhor o próprio mundo e
suas questões sociais, políticas, culturais, dentre outros. Não é à toa que se
tornou símbolo do feminismo, militante das causas sociais e do pensamento
crítico sobre questões relevantes na sociedade até os dias de hoje.
Criada
em 1963 pelo cartunista, muita gente nem desconfia de que a garotinha, detentora
de uma esperteza inigualável, foi inicialmente desenhada para divulgar os eletrodomésticos
Mansfield, da empresa Siam Di Tella, em uma tira de jornal. Entretanto, a
campanha publicitária nunca foi adiante e Quino engavetou os primeiros desenhos
em que a personagem aparece.
Algum
tempo depois, o desenhista argentino recebeu um convite para publicar as
tirinhas na Revista “Primera Plana”, nascendo oficialmente, em 29 de setembro
de 1964, a famosa história em quadrinhos da imbatível Mafalda. Sucesso mundial,
traduzida para mais de trinta países. Naquela época, devido ao seu senso
crítico elevado, a obra foi censurada e considerada de conteúdo adulto em
diversos países. Porém, nada impediu que os ideias de Mafalda corressem o
mundo, transformando aqueles que liam as histórias da pequena gigante.
Lamentavelmente,
nesta quarta-feira (30/09) - um dia após Mafalda completar 56 anos de história
- Quino faleceu aos 88 anos de idade em razão de um possível derrame, ainda sem
confirmação médica e/ou anúncio da mídia local. Contudo, a proximidade entre a
data da morte do cartunista e da comemoração de existência da famosa personagem
não é mera coincidência, exaltando a verdadeira sintonia entre criador e
criação.
Diversas
pessoas prestaram lindas homenagens ao desenhista nas redes sociais, dentre
elas, o cartunista brasileiro Maurício de Souza, bastante emotivo por conta da recém
notícia do falecimento do colega de profissão e amigo de longas datas. Nos dizeres
de Maurício: - “O amigo Quino está agora desenhando pelo universo com aqueles
traços lindos e com um humor certeiro como sempre fez”. Ambos estiveram juntos
em Buenos Aires, Argentina, na comemoração dos 50 anos de Mafalda em 2015.
Dois
excelentes cartunistas que criaram duas grandes personagens femininas simultaneamente
e que marcaram várias gerações por décadas, mesmo Quino finalizando as
histórias da pequena notável em 1973. Mas por que enaltecer figuras do sexo
feminino? Por que Mafalda foi a protagonista das histórias em quadrinhos do
saudoso cartunista argentino? – “Porque as mulheres são mais espertas”, ele costumava
dizer em algumas de suas entrevistas. De fato, Mafalda é a maior comprovação desta
afirmativa.
No
dia de hoje, nos resta lamentar a morte de uma mente brilhante e sagaz, que contribuiu
enormemente para a cultura argentina e sul-americana, mas ao mesmo tempo,
celebrar a eternidade de sua grandiosa obra chamada Mafalda. Adiós Quino, que
Diós te bendiga.
Foto:
Ilustração/ Maurício de Souza
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