O lado sombrio das redes sociais
“O
Dilema das Redes”, um dos mais recentes documentários originais da Netflix, trouxe
à tona um debate bem complexo sobre o uso desenfreado das redes sociais por crianças,
jovens e até mesmo adultos. O objetivo principal do longa-metragem é refletir
sobre os malefícios que o uso exagerado e sem controle das redes sociais está
causando no mundo inteiro, na tentativa de despertar as pessoas para as reais consequências
do vício das plataformas digitais na atualidade e no futuro de diversas nações.
No
documentário há a participação de profissionais da área tecnológica, marketing e
de relações públicas que trabalham ou trabalharam com grandes empresas como a
Google, Twitter, Instagram, Facebook, dentre outros. Em seus depoimentos, os inúmeros
especialistas relataram indignação com o sistema de algoritmos que os
aplicativos adotam para obter informações dos próprios usuários, de modo a manipulá-los
da forma como bem querem.
Trata-se,
portanto, do poder de persuasão da tecnologia que busca meios de coletar dados
que serão redirecionados aos usuários de modo a engajá-los por horas, quiçá dias
nas redes sociais e com isso, aumentar o crescimento de popularidade dos
aplicativos e o enriquecimento de muitos empresários por meio destas plataformas
digitais que se tornaram bilionários. Afinal de contas, os internautas
representam verdadeiros números de captação de dinheiro.
Em
diversos aspectos, O Dilema das Redes nos remete à famosa trilogia
cinematográfica “Matrix” (1999/2003), que retratou a existência de uma inteligência
artificial chamada Matrix que manipulava a mente das pessoas, fazendo-as
acreditar que viviam uma vida real, quando na verdade, viviam ilusões criadas
pelo sistema. Inclusive, o termo Matrix é mencionado em alguns momentos do
documentário para enfatizar a constante manipulação que sofremos durante todo o
tempo em que estamos conectados na rede.
É
surpreendente como um simples “click” pode transformar usuários em verdadeiras marionetes,
no sentido de que não temos nenhum controle sobre o conteúdo que nos está sendo
exposto diariamente por detrás das telinhas de celulares e computadores. Literalmente
tudo é programado por meio do sistema de algoritmos para nos entreter e nos
motivar a continuar conectados por bastante tempo.
Lamentavelmente,
já é possível perceber as consequências negativas do uso desmedido de
determinados aplicativos em que muitos jovens se submetem ao isolamento social,
preferindo o virtual que o mundo real. Deste modo, eles passam muito mais tempo
online do que de fato interagindo fisicamente com pessoas e/ou realizando atividades
presenciais como conversar a mesa com seus familiares durante o jantar.
Diversas
pesquisas comprovam o aumento de ansiedade nas pessoas, especialmente jovens,
entre 13 e 25 anos de idade, que não conseguem ficar mais de um dia sem se
conectar nas redes sociais ou que não sabem lidar com a falta de “likes” e
popularidade de suas vidas virtuais. Houve também o aumento de jovens que
passaram a mutilar seus corpos e até mesmo chegaram ao ponto de retirar suas
próprias vida em decorrência da baixa autoestima e depressão.
A
cena do documentário em que a filha mais nova do casal quebra o vidro do
recipiente de maneira agressiva e descontrolada, pois não cogitou a ideia de
ficar uma hora sem manusear o celular – tempo que a mãe da personagem programou
para que toda a família pudesse jantar sem a interferência tecnológica – demonstra
o quão viciada a nova geração de crianças e jovens está.
É
assustador pensar que todo um comportamento humano está sendo moldado, modificado
e manejado por meio de uma inteligência artificial que nem mesmo o ser humano, inventor
desta alta tecnologia, sabe como controlar ou minimizar os efeitos gerados pelo
seu uso. Deste modo, a criatura está no comando e o criador tornou-se escravo
dela.
É
mais assustador ainda saber que toda a informação compartilhada nas redes
sociais está sendo frequentemente monitorada pelo sistema e que nossa vida é
vigiada 24 horas por dia. Um alerta importante para que as pessoas filtrem o tipo
de conteúdo que postam e o que dizem nas redes sociais, pois mesmo não havendo
regras bem consolidadas que regulem o mundo virtual, tudo está documentado de maneira
permanente.
Outra
problemática suscitada em O Dilema das Redes foi a questão da polarização do
mundo em relação a vários setores da sociedade, principalmente na política. As pessoas
estão cada vez mais intolerantes, agressivas, egocêntricas e menos
democráticas. Não há espaço para debates e sim, imposição de pensamentos narcisistas
e ideologias radicais, muitas das vezes, provenientes de “fake news” e da
desinformação resultante do alto consumo de notícias sem qualquer credibilidade.
Uma
revelação impactante sobre o sistema de algoritmos recai justamente sobre o
fato de sua formatação não conseguir identificar a veracidade ou falsidade de
uma informação publicada na rede, ou seja, há dados que não são comprovados ou
sequer confiáveis, pois são medidos por critério de número de acessos e não
pela confiabilidade e idoneidade da fonte. Como resultado desta falha no
sistema, o internauta encontrará respostas distintas dentro das plataformas de
pesquisa, a exemplo da Google, que sofrerão variações de acordo com a
quantidade de acessos de usuários de cada país.
A
preocupação destes profissionais que estão diretamente envolvidos na elaboração
e formatação destas plataformas digitais sugerem que o problema é realmente
grave. As repercussões do uso descontrolado das redes sociais estão além do
imaginário humano e já estão sendo contabilizados, embora os usuários tenham
que pagar um preço bem alto por ele: perda de tempo, qualidade de vida e
produtividade.
Não
há como negar a praticidade, a comodidade e os benefícios que a tecnologia
trouxe para todos, mas temos que perceber e reconhecer que os efeitos
colaterais do uso inadequado das redes sociais estão prejudicando muitas
pessoas. O documentário foi um despertar para que a sociedade atual esteja
preparada para lidar com consequências ainda mais desastrosas que estão por vir
e que, portanto, tem a responsabilidade de buscar soluções, a curto e a médio
prazo, para resolver este problema de âmbito global.
Foto: Reprodução
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