O mentalista da vida real
![]() |
(Na foto de cima, o cabelereiro Rauan Monteiro e na foto de baixo, a personagem Fifi Nix interpretada pelo ator Nicholas Grava) |
Recentemente,
assisti ao 21° episódio da 4ª temporada da série “The Mentalist” ou O Mentalista
em português - um antigo programa de televisão que era exibido pelo canal a
cabo da Warner Channel, mas que atualmente está em reprise no canal da TNT
Series. O seriado policial americano, que durou por sete anos (2008/2015),
tratava de uma Agência de Investigação da Califórnia que se utilizava dos
serviços de um “vidente” para auxiliar a equipe de investigadores a solucionar
os misteriosos casos.
Em
pouco tempo de serviço, Patrick Jane, protagonizado por Simon Baker, tornou-se
o mais novo membro e consultor da CBI (California Bureau of Investigation) ao
utilizar do seu alto poder de observação, intuição e por assim dizer, leitor de
mentes para desvendar os reais assassinos por detrás de cada história.
Neste
episódio, intitulado “Ruby Slippers” (traduzido para o português como os sapatos
de rubi), o assassinato de um jovem rapaz que fora queimado dentro de um
automóvel, intrigou a agente Teresa Lisbon (Robin Tunney) e sua equipe. Por
meio das investigações, uma testemunha e três suspeitos foram encontrados.
O
primeiro suspeito foi o pai da vítima que era muito rigoroso com o próprio
filho. O segundo foi um colega de trabalho que roubava mercadorias e já tinha
uma ficha suja na polícia e o terceiro foi o namorado do rapaz, dono de uma
livraria. Contudo, apenas as digitais do segundo suspeito foram encontradas no
galão de gasolina que estava na cena do crime.
Vale
ressaltar que o carro incinerado, juntamente com o corpo da vítima, foi encontrado
num beco próximo a um cabaré de “Drag Queens”, razão pela qual a Drag Queen Glennda
Snow (Carlton Wilborn) foi solicitada pela polícia para testemunhar sobre os
fatos que presenciou na noite do incêndio. Outra curiosidade sobre o caso recai
sobre um salto de sapato vermelho com lantejoulas encontrado no local do crime.
Patrick
Jane pressente que Glennda deu um falso testemunho e ao pressioná-la, descobre
que ela sabe quem é o verdadeiro assassino, mas por medo de que se torne alvo
de pessoas preconceituosas, preferiu omitir informações. Com este cartucho em
mãos, Patrick solicita que a Drag Queen compareça mais uma vez na agência de
investigação para fazer o reconhecimento do rosto do assassino de Archie Bloom
Jr. (Nicholas Grava).
Ao
se deparar com os três suspeitos, Glennda diz que não consegue afirmar com
precisão qual deles é o responsável pela morte do jovem rapaz, pois como estava
de noite, não tinha como identificar as feições do sujeito. Entretanto, lembrou
vagamente que ele tinha um porte pequeno e magro. Por meio deste depoimento, Patrick,
Teresa e toda sua equipe finalmente obtêm outra revelação: na verdade, Archie
Bloom tinha tirado a própria vida.
Mas
por que o rapaz teria cometido este ato? Porque o pai não aceitava o fato dele
ser homossexual e o tratava com muita rispidez, indiferença e agressividade. Porque
alguns colegas de trabalho caçoavam dele em razão de sua preferência sexual. Porque
o namorado abusava sexualmente dele e o instigava a usar drogas. Porque ele não
era bem-vindo em sua própria casa, tendo que morar de favor em um lar adotivo
com apoio de uma assistência social.
Apesar
de estar falando sobre um personagem fictício, há vários outros Archie pelo
mundo que passam pela mesma situação cotidianamente. É muito sofrimento para um
ser humano suportar, principalmente quando não se tem o auxílio, proteção e
amor daqueles que necessariamente deveriam dar. A rejeição e o abandono da
família acontecem na maioria dos casos, sendo algo muito doloroso de lidar.
Mas
o que dizer daquele salto que foi encontrado no beco? A quem pertencia? Bem, o salto
era do sapato da mais nova Drag Queen do cabaré chamada Fifi Nix e que foi recentemente
acolhida no estabelecimento por Glennda e suas amigas. Fifi, uma jovem Drag Queen
de porte bem esguio. Tudo isso seria uma mera coincidência?
Com
a genialidade de Patrick Jane para desvendar mistérios, o mentalista juntou as
peças do quebra-cabeça e descobriu que Archie não tinha retirado a própria vida.
E apesar daquela noite sombria em que pensou em se matar, Glennda e suas amigas
Drag Queens o convenceram a desistir.
Por
meio daquele incêndio que simulou a sua morte, Archie Bloom renasceu das cinzas
como Fifi Nix, na esperança de poder viver dignamente, sem medo de ser quem
verdadeiramente é. Infelizmente, nem todos podem contar com a ajuda de terceiros
e muito menos adquirem uma nova oportunidade de recomeçar a vida da maneira
como gostariam: livres do sentimento de culpa, da rejeição e da auto
depreciação.
O
trágico caso do cabelereiro Rauan Monteiro, de 29 anos, que foi agredido em sua
própria casa a facadas e pedradas na terça-feira (20/10) chocou muitas pessoas.
No momento, ele se encontra em estado grave no Hospital Geral do Estado (HGE), em
Salvador (Bahia), e teve um traumatismo craniano e três perfurações nas costas
que atingiu um dos pulmões.
Dois
suspeitos que ainda não foram identificados pela polícia adentraram na casa do
rapaz, roubando o celular, a moto e certa quantia em dinheiro. Como se não
bastasse ter violado o lar de um cidadão, espaço de respeito e privacidade, ambos
ainda se acharam no direito de agredi-lo, inclusive, de forma tão violenta.
Lamentavelmente,
o boletim médico confirmou que Rauan Monteiro teve todos os ossos da face
quebrados e uma importante parte do cérebro danificada, indicando que terá
sequelas para a vida toda.
A
família do cabelereiro está fazendo campanha nas redes sociais para divulgar o
caso e exige justiça pelo o que aconteceu com o jovem rapaz. Segundo o
depoimento da irmã da vítima, Rauan teria sofrido estas agressões por questões
de ódio e homofobia. Contudo, são especulações ainda sem comprovação. Ademais,
a polícia não conseguiu afirmar se a vítima teria autorizado ou não, a entrada
dos dois suspeitos.
E
aqui nos deparamos com ficção e realidade: dois casos que retratam as
dificuldades e preconceitos que os homossexuais lidam todos os dias. Uma luta
sem fim, mas que se faz fundamental para que reafirmem sua verdadeira
identidade para a sociedade.
Rauan
teve seus planos de trabalhar em Portugal, como cabelereiro, adiados
temporariamente, pelo menos até se recuperar das fraturas e conseguir mensurar
a gravidade das sequelas. A personagem Fifi Nix do seriado O Mentalista, no
entanto, teve sorte. Mas por pouco não fez parte do grupo de homossexuais, Drag
Queens, transexuais, dentre outros, que perdem a vida pelo simples fato de pertencerem
ao grupo LGBTQIA+.
Comentários
Postar um comentário