A gordofobia e a luta contra o preconceito

 



Recentemente, vi uma postagem da Revista Tpm no Instagram que me chamou bastante a atenção. O assunto era sobre a modelo ganense-britânica e influenciadora digital, Enam Asiama, que está fazendo o maior sucesso e ganhando cada vez mais seguidores nas redes sociais. No entanto, apesar do seu êxito, inclusive, com marcas mundialmente famosas, a jovem modelo vem sofrendo com mensagens depreciativas de internautas que possuem aversão a pessoas gordas e que são contra a “glamourização da obesidade”.

Para todos aqueles que já sofreram algum tipo de preconceito por ser considerado diferente: 1) Em razão de alguma característica ou deformidade física de nascença; 2) Por ser tratado de maneira “especial” por ser portador de alguma deficiência física ou doença mental; 3) Em razão do gênero ou opção sexual; 4) Por simplesmente não preencher os requisitos dos padrões de beleza impostos pela sociedade, sabe que não é fácil lidar com a rejeição, indiferença e exclusão social.

Infelizmente, há uma quantidade enorme de pessoas que são vítimas do preconceito e da discriminação racial, sendo submetidas a todo tipo de humilhação por meio de “bulling”, piadas, brincadeiras altamente mal-intencionadas e com o intuito exclusivo de expor a pessoa ao ridículo e por fim, mensagens vexatórias de “haters”, que muitas das vezes, criam contas falsas nas redes sociais para insultar e ofender outras pessoas, mas sem serem identificadas.

Com relação aos indivíduos que possuem qualquer tipo de aversão, repulsa a pessoas que tem sobrepeso e excesso de gordura corporal, já existe um termo que os identifica pelo fato de não se relacionarem com pessoas acima do peso, justa e unicamente pelo fato delas serem gordas – GORDOFOBIA. O termo surgiu para identificar cidadãos que costumam depreciar e ridicularizar pessoas gordas pela condição de estarem acima do peso e por não terem corpos considerados bonitos e/ou desejados.

Esta expressão tomou força no Brasil a partir de 2009, após a atriz e comediante, Fabiana Karla interpretar uma personagem da novela “Amor à Vida” – Perséfone, uma mulher de trinta anos de idade e que apesar de ter uma vida profissional satisfatória e estável financeiramente, ainda era virgem aos 30 anos em razão de ser uma mulher gorda e, portanto, excluída dos padrões de beleza. A personagem, passa a novela inteira tentando emagrecer, fazendo dietas mirabolantes, para poder conquistar um homem. Que situação deplorável, principalmente por muitos terem a convicção de que uma pessoa gorda não pode ser desejada ou amada por alguém.

Que lástima pensar que, nos dias de hoje, ainda há quem prefira um rosto bonito e corpo escultural ao invés de uma pessoa interessante por seu intelecto, valores e caráter. Não quero dizer que a atração física não deva existir, até mesmo porque ela é essencial para que haja a química e o entrosamento inicial entre os parceiros. Contudo, não deve ser o único requisito pelo qual as pessoas se interessam umas pelas outras.

É notório o movimento de mulheres com excesso de peso que estão quebrando o paradigma da beleza ao enfrentarem seus próprios medos, inseguranças e complexos de rejeição, aceitando seus corpos e reaprendendo a amar a si mesmas do jeito que são. A mudança de mentalidade surgiu com a instituição da beleza “plus size” por meio da moda, militância de muitas mulheres contra a gordofobia e novos concursos de beleza que enaltecem a beldade, a imponência e o encanto de mulheres mais corpulentas e de quadril mais largo.

Algumas das maiores conquistas neste sentindo são empresas e marcas de grife produzindo roupas com numerações maiores, ampliando a clientela ao incluir pessoas com excesso de peso como clientes em potencial e a criação de diversos concursos de beleza, a exemplo do “Miss Top Of The World”, em que as candidatas disputam pela nomeação de mulher plus size mais bela do mundo. Ano passado, a brasileira Nina Souza, de 28 anos, ganhou o prestigioso título - a única representando a América Latina.

O poder de representatividade que estas mulheres espalham é enorme e ajuda a outras mulheres a elevarem a autoestima, passo muito importante para que elas sejam mais felizes e confiantes consigo mesmas. Entretanto, acredito que nenhum tipo de culto ou idolatria ao corpo deva ser feita de forma exagerada, pois do mesmo modo que a anorexia e a bulimia são doenças graves que envolvem questões de saúde pública, para além do alcance do corpo considerado perfeito, a obesidade mórbida também é um problema de saúde bastante sério.

É importante que os corpos de homens e mulheres gordas também sejam vistos como objeto de desejo, amor, admiração e respeito. Mas não acredito que glamourizar a obesidade por si só - no sentido de que as pessoas gordas e obesas não devam cuidar da saúde física e mental - seja o melhor caminho. A glamourização deve referir-se à exaltação da beleza de corpos avantajados, salientes e cheios de curvas, mas nem por isso, as pessoas deverão ser negligentes ou relapsas com a própria saúde a tal ponto de colocar em risco suas vidas.

Afinal de contas, tudo na vida deve ter bom senso e limite entre o que é saudável e ponderável e o que não é, até mesmo tratando-se de beleza e da busca pelo corpo perfeito. Se de fato existir o corpo perfeito. Uma pena que muitas pessoas percam muito tempo tentando obter o “corpo ideal” para se encaixar num padrão, sem perceber a beleza que há dentro delas que as tornam únicas.

 

Fontes: https://diariodovale.com.br/lazer/miss-brasil-plus-size-de-volta-redonda-vence-mundial-de-beleza-na-ucrania/#prettyPhoto[gallery]/4/

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Foto: Fotógrafa Masha Mel/@mashamel

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