A força de Anita - Referência de reflorestamento no Brasil


 

“Vou fazer o oposto”, afirmou ela, apreensiva. “Primeiro vou salvar a floresta, depois vou dedicar minha vida ao estudo deste pássaro”.

 

Quem imaginou que a Anita seria responsável pelo reflorestamento de mais de oito milhões de árvores no Brasil? Vale ressaltar, um feito extraordinário levando-se em consideração as condições climáticas atuais, o alto índice de desmatamento no país, a poluição dos diversos biomas e os constantes incêndios que ocorrem em nossas florestas (atualmente, a maior devastação em 20 anos). Contudo, não estou me referindo à cantora e compositora carioca e sim, a bióloga suíça: Anita Studer. Uma mulher que dedicou praticamente a sua vida inteira (e ainda se dedica) a fauna e flora brasileira.

Porém, não consigo entender como uma mulher de grandes feitos para o país, não se tornou tão conhecida pela população brasileira?  Eu, por exemplo, nunca tinha ouvido falar dela, até então. O que me envergonha e me entristece muito. Afinal, o que esta bióloga conseguiu conquistar por meio do seu árduo trabalho é algo realmente fantástico e admirável. E nós, brasileiros, somos os beneficiados pela ação de uma estrangeira que se importou de verdade com os problemas ambientais do Brasil, desde 1976, quando pisou aqui pela primeira vez.

Para quem não sabe, Anita veio estudar as numerosas espécies de pássaros da região da Serra da Canastra, em Minas Gerais. E pensar que a odisseia dela em terras tupiniquins começou por conta de um pássaro, chamado Anumará, que vivia (e ainda vive) numa floresta no estado de Alagoas. Quando o diretor da pesquisa soube da descoberta do Anumará, disse que seria um excelente objeto de estudo e tema da tese acadêmica de Studer. A ave, que nunca tinha sido estudada antes, estava ameaçada de extinção. E para piorar a situação, o habitat natural dele também corria sérios riscos de desaparecer no prazo de 10 anos, em razão do excessivo desmatamento na região.

Na cabeça de uma jovem de vinte e poucos anos, a solução era óbvia: reflorestar primeiro o ecossistema local para que o Anumará tivesse chances de sobreviver e se reproduzir. Desta maneira, Anita mudou o foco de sua pesquisa ornitológica e os rumos de sua trajetória para defender a conservação da floresta de Pedra Talhada, localizada em Quebrangulo (AL). Trabalho hercúleo que exerce até os dias atuais por meio da atuação da Associação Nordesta Reforestation & Education (Reflorestamento & Educação), uma ONG criada por ela, em 15 de maio de 1985.

Deste modo, o que era para ter sido apenas uma pesquisa acadêmica atrelada à Universidade Estadual de Campinas e com prazo determinado, se tornou uma missão de vida. Vale frisar, missão que completará 40 anos em 2025! No entanto, não foi fácil chegar até onde ela chegou, tendo que enfrentar vários desafios no meio do caminho, a começar pela população que vivia economicamente da pecuária, agricultura, da caça e da extração de madeira. Em decorrência disso, as pessoas da região não tinham nenhuma preocupação e nem cuidado com a floresta que servia apenas como uma fonte econômica.

Além de cativar a comunidade e conscientizá-la a respeito da importância de preservar a Mata Atlântica que ali existia, Anita Studer também teve que chamar a atenção dos governantes locais e de outras autoridades públicas para conseguir fundos para os seus projetos e programas sociais. Uma das primeiras façanhas foi transformar a floresta de Pedra Talhada numa reserva biológica, ou seja, uma unidade federal de conservação regularizada e mantida pelo governo brasileiro.

Para esta grande conquista, ela fez um acordo (que consistia em reconstruir uma escola que destruída por um incêndio) com o prefeito e vice-prefeito de Quebrangulo, Frederico Maia e Marcelo Vasconcelos Lima, respectivamente, para que ambos obtivessem a colaboração do governador para a proteção da floresta. No dia 18 de agosto de 1985, a escola foi construída e o governador Divaldo Suruagy assinou o decreto n° 6551, instituindo a criação do Parque Estadual de Pedra Talhada.

Além de escolas, a ONG Nordesta também construiu centros de saúde e oficinas de treinamento profissional para capacitar melhor a população, fornecendo abrigo, alimentos, cuidados e educação para todos (especialmente, crianças de rua). Um dos seus projetos, conhecido como Arco Íris, lhe rendeu o reconhecimento do prêmio Rolex, em 1990. Em 2010, Anita foi nomeada pelo Governo Francês ao título de “Chevalier dans l’Ordre national de la Légion d’Honneur” (Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra), em razão de suas ações em prol da preservação do meio ambiente e da humanidade.

Estes títulos foram importantes para que a bióloga suíça ganhasse notoriedade e credibilidade para continuar estudando os pássaros, reflorestando os ecossistemas locais, protegendo a rica diversidade botânica brasileira e salvando uma (ou até mais) espécie de pássaro em extinção. Tudo isso e ainda por cima, publicando diversos artigos científicos que contribuíram para a compreensão dos problemas e complexidades que o Brasil enfrenta no quesito meio ambiente e sua preservação. 

De fato, não consigo me lembrar de ter ouvido falar desta mulher extraordinária que, juntamente com a participação da comunidade de Quebrangulo, a criação da Nordesta, atuação de algumas autoridades brasileiras e do governo francês e suíço, conseguiu transformar a realidade de um lugar a ponto de não só preservar a Mata Atlântica, mas ampliar exponencialmente sua vegetal. Porém, tudo indica que os seus trabalhos não foram reconhecidos pelo governo federal brasileiro que nunca a prestigiou com uma honraria sequer, ao longo desses anos, mesmo após ter plantado mais de 1 milhão de árvores no Brasil e ter melhorado milhares de vidas. Uma lástima, para dizer o mínimo.

 

“Plantamos oito milhões de árvores no Brasil. Eu não sabia que levaria metade da minha vida para salvar esta floresta”.

 

Foto: Google

Fontes:

Anita Studer: A Bióloga suíça que já plantou mais de 1 milhão de árvores no Brasil - JB NOTÍCIAS

Décadas de luta para salvar a Mata Atlântica - Defensores da Terra

Conheça a suíça que salvou uma espécie de pássa... | CLAUDIA

A suíça que ajudou a salvar uma floresta no Brasil - SWI swissinfo.ch

Nordesta - Anita Studer

Quebrangulo no Mapa: Anita Studer, "recordações" de uma Heroína

Prêmios Rolex – Salvando as florestas do Brasil para proteger os pássaros


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