A cadeirada do momento
No domingo (15/09) ocorreu o debate eleitoral entre os principais candidatos ao cargo de chefe do executivo da prefeitura de São Paulo, realizado pela TV Cultura. O fato mais impressionante do programa se deu com uma reação do candidato e apresentador, Datena (PSDB), às provocações de um dos seus opositores, o candidato Pablo Marçal (PRTB). Uma reação totalmente descomedida, violenta e que transparece a natureza de um indivíduo que não possui nenhum equilíbrio emocional para disputar uma candidatura, quem dirá dirimir a prefeitura de uma cidade como São Paulo.
Vale ressaltar que este texto não possui qualquer viés partidário ou ideológico, apenas objetiva analisar o fato em questão. A chocante cena de Datena arremessando a cadeira em cima de Marçal evidencia a grotesca era política em que estamos vivemos, onde os candidatos apenas ficam insultando uns aos outros, ao invés de realmente debater ideias e/ou formular propostas eficientes para os reais problemas da cidade. Eles, em sua grande maioria, se preocupam mais com o próprio ego, status e poder do que de fato com as demandas e necessidades da população. Querem obter grandes salários e regalias que vem com o cargo, mas não pensam na responsabilidade e comprometimento que o mesmo também exige.
Infelizmente, a espetacularização da vida por meio da mídia e das diversas plataformas digitais também está atuante na política brasileira a ponto dos debates eleitorais terem se tornado verdadeiros palcos de espetáculos bizarros como este. E o povo continua sendo feito de palhaço ao testemunhar candidatos despreparados para assumir um cargo de tamanha importância. Muitos candidatos apelam para o espetáculo, justamente por não terem nenhuma noção de gestão pública, planejamento estratégico, competência para realizar a tarefa ou visão de mundo para elaborar propostas que resolvam ou ao menos amenizem os problemas socioeconômicos da região em que residem.
A verdade é que muitos candidatos vivem em suas próprias bolhas ideológicas que não sabem mais distinguir a crença utópica da realidade. Eles se esquecem de que são cidadãos brasileiros e que cedo ou tarde também serão afetados pelo sistema da qual fazem parte. Ou será que eles de fato acreditam que estão acima da lei?
Não há personagem mais curioso, tosco e patético do que político em época de campanha eleitoral. Prometem realizar inúmeras obras e projetos para a comunidade local quando, na verdade, não passa de um baita engodo. Sem esquecer de mencionar o fato de que, muitas da vezes, eles têm contato com a população mais carente somente durante as campanhas, se passando como amigo do povo ou genuinamente interessado nas causas sociais. O que também não passa de outro ato de encenação neste grande circo que é a política brasileira (ou seria politicagem)? E o brasileiro cai na mesma cilada a cada ano eleitoral. Vai entender. É como diz o ditado: - O povo tem o governo que merece.
Contudo, o candidato Datena ultrapassou os limites éticos, morais e jurídicos ao agredir uma pessoa desta maneira. Um comportamento inadequado e nada civilizado que já custou a sua candidatura (já fragilizada) e a sua imagem como apresentador de televisão. Afinal, nada justifica o que fez, mesmo que tenha sido provocado por alguém. Embora o povo brasileiro já esteja habituado a presenciar as agressões verbais entre candidatos, uma agressão física extrapolou qualquer tipo de “deslize ou erro tolerável” numa disputa política. Afinal, os fins justificam os meios? Portanto, como já dizia Raul Gil: “O Raul perguntou, você não acertou. Pegue o seu banquinho e saia de mansinho”.
Também estamos vivendo a era de maior intolerância política que o Brasil já teve. O país se encontra polarizado em dois extremos partidários. Não há mais respeito pela opinião daqueles que pensam de forma diferente. Isso acontece não só entre eleitores, mas também entre partidos políticos opositores. Deste modo, há uma grande divisão social cujo sistema insiste em continuar mantendo a sociedade fragmentada nestes dois polos. E no final, quem continua perdendo é o povo brasileiro que se depara com a candidatura de pessoas altamente despreparadas para governar.
Num país sério, Datena não apenas teria sido expulso do programa como teria saído de lá algemado por ter ferido a integridade física de outro candidato (pouco importa quem ele seja)! Estamos falando de um ser humano agindo de modo irracional para atacar outro ser humano. Os animais pelo menos atacam para se alimentar ou se defender de predadores. Pois bem, tudo indica que a humanidade está regredindo e voltado ao tempo das cavernas, da barbárie. Só pode!
Na República de Bananas, em que há diversos escândalos de corrupção, sérios problemas socioeconômicos e ambientais, pode tudo em nome do poder. Deste modo, em pleno século XXI, o Brasil ainda é o país em que seus cidadãos votam “no menos pior” ou no candidato “que rouba, mas faz” como se fosse a coisa mais natural do mundo. Este é o nível da nossa política. Lamentável.
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