Despedida do voo 2283
A passaredo Transporte Aéreos, renomeada em 2019 de VoePass, é umas das mais antigas operadoras de voos regionais do Brasil. Desde o seu surgimento, em 1995, trabalha com aeronaves de modelo turboélice comercial bimotor de médio porte, mais conhecidas como ATRs (Avions de Transport Régional) que foram batizadas com o mesmo nome de sua fabricante de origem franco-italiana. A companhia opera apenas aeronaves de modelo ATR 72, versões 500 e 600.
Na sexta-feira (09/08), o voo 2283 que saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) tornou-se o mais novo trágico acidente aéreo que matou 62 pessoas (cinquenta e oito passageiros e quatro tripulantes) e assolou o país inteiro. A situação tornou-se ainda mais desoladora pelo fato de ter sido comemorado o dia dos pais no domingo (11/08), embora muitas pessoas tenham repentinamente perdido seus filhos e pais nesta tragédia que não deixou sobreviventes.
Segundo especialistas, o motivo da queda do avião se deu pelo acúmulo de gelo nas asas, causando a perda de sustentação da aeronave e fazendo com que ela caísse em Vinhedo, no condomínio Recanto Florido, no bairro de Capela (SP). Contudo, o comandante e ex-funcionário da VoePass, Ruy Guardiola, afirmou de que há falhas no funcionamento do sistema desta companhia aérea. Em recente depoimento, inclusive, fez menção a um voo realizado por ele, em 2019, em que as condições estavam tão precárias que foi necessário o uso de um palito de fósforo para dar jeito no sistema antigelo. Outro funcionário, que não quis se identificar, disse que a tripulação chegou a batizar um determinado avião de “Maria da Fé”, em razão da falta de manutenção e desleixo com a segurança.
Além desta problemática, semanas antes do acidente, Luís Cláudio de Almeida, um dos atuais pilotos da Voepass, afirmou durante uma audiência pública de que sofre constantes pressões para realizar voos fora da escala de trabalho, sendo que precisa ter suas necessidades de descanso e lazer. Não é de hoje que se fala em saúde mental e da importância de manter a mente e o corpo sãos para obter bons rendimentos no trabalho, ainda mais se tratando de pilotos de aviação que vivem em altos níveis de estresse e tensão.
Infelizmente, o lucro sempre se sobrepõe aos outros valores como a integridade física, segurança e até mesmo a própria vida das pessoas. Estes depoimentos evidenciam a ganância, a negligência, a falta de humanidade e caráter de empresas que deveriam zelar pela segurança e bem-estar de seus passageiros, garantindo-lhes um meio de transporte totalmente seguro, confiável e com a manutenção adequada em dia. Entretanto, a sociedade se depara com escândalos deste porte que além de ferir a credibilidade da empresa, ceifou dezenas de vidas e arruinou centenas de outras que perderam seus entes queridos neste lastimável acidente.
É de conhecimento público de que a aeronave que caiu em Vinhedo passou por manutenção após sofrer um dano estrutural, em março deste ano, além de apresentar falhas no ar-condicionado e no sistema hidráulico. Deste modo, ficou estacionada durante dezessete dias no Aeroporto Internacional de Salvador - Luís Eduardo Magalhães, sendo depois enviada para conserto numa oficina da VoePass, em Ribeirão Preto (SP). Só voltou a voar no início de julho, mas teve que voltar para a oficina após ocorrer uma despressurização, onde ficou mais quatro dias parada para um novo reparo. Mesmo voltando a voar, muitos passageiros reclamaram do calor excessivo e de outros problemas do avião.
Será que esta aeronave estava realmente em boas condições para voar? Será que já não estava na hora de aposentar o avião ou mudar o seu maquinário por um novo ou até mesmo comprar uma aeronave totalmente nova? Por que a VoePass insistiu em utilizar um avião que estava apresentando tantos defeitos? Tem certos remendos que não tratam efetivamente o problema, só tapiando temporariamente até necessitar de uma solução melhor. Porém, o barato pode sair bem caro, prinipalmente quanto implica na perda de vidas.
Agora a grande questão que paira no ar: se o piloto de fato não percebeu o gelo nas asas ou mesmo tendo identificado o problema, as precárias condições do avião não lhe permitiu fazer nada para evitar o acidente. A partir dessas novas informações, a minha dúvida é: o que a VoePass tem a dizer sobre estes depoimentos?
Foto: Pinterest
Fontes:
https://oantagonista.com.br/brasil/aviao-da-voepass-questoes-de-manutencao-emergem/
https://exame.com/negocios/queda-de-aviao-em-vinhedo-quem-e-a-voe-pass-antiga-passaredo/
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-08/fab-transportara-urnas-funerarias-de-vitimas-de-acidente-em-vinhedo
https://www.poder360.com.br/brasil/veja-imagens-do-acidente-do-aviao-da-voepass-que-matou-61-em-vinhedo/
https://www.metropoles.com/sao-paulo/veja-nome-dos-57-passageiros-mortos-em-acidente-de-aviao-em-vinhedo
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