Poder Judiciário: juizite aguda, bajulação & pouco bom senso
A
audiência de custódia do detento Luan Gomes, realizada no dia 10 de janeiro
deste ano, no Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), chamou bastante a atenção
dos internautas pelo fato da juíza ter oferecido um café e até mesmo um paletó
para o preso que estava sentindo frio no estabelecimento. No vídeo, que foi
divulgado na internet pelo deputado federal, Nikolas Ferreira (PL-MG), é perceptível
a incessante preocupação da magistrada para com Luan, a tal ponto de pedir para
desligar o ar-condicionado da sala, retirar as algemas das mãos dele e avisar
que só daria continuidade à audiência quando ele parasse de tremer.
Não
me leve a mal, não há nada de errado em uma pessoa querer ser gentil com outra.
Afinal de contas, o senso de civilidade, polidez, cortesia e amabilidade devem
ser exercitados a todo instante para com o próximo, uma vez que partimos do
pressuposto de que as pessoas tratam as outras da mesma maneira como gostariam
que fossem tratadas. Até aqui, o pensamento está correto. Educação, bons modos
e respeito são elementos fundamentais para que a sociedade seja um espaço
agradável para o convívio em grupo e construção de relações sociais sadias,
respeitosas e harmoniosas.
Contudo,
há que se questionar o porquê da justiça brasileira estar dando um tratamento
excessivamente bom para aqueles que cometeram crimes e sendo muito desrespeitosa,
arrogante e autoritária para com as vítimas e testemunhas de diversos
processos. Não faz muito tempo em que uma juíza de Santa Catarina obrigou uma
testemunha a chamá-la de “Excelência” em uma audiência trabalhista. Além de ser
agressiva com as partes e seus respectivos advogados, gritou com uma das testemunhas,
que não estava entendendo o pedido. Aos gritos, a magistrada solicitou o
cancelamento da oitiva desta testemunha.
Em
setembro do ano passado, um juiz de Mato Grosso deu voz de prisão para a mãe de
uma vítima por ela ter manifestado, numa audiência, seu sentimento de repúdio,
descontentamento e mágoa contra o réu que assassinou seu filho. No primeiro caso,
a juíza foi temporariamente suspensa de realizar audiência até a conclusão do
procedimento investigatório de irregularidades ou de incapacidade mental por
meio de laudo médico. No segundo caso, o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) abriu uma reclamação disciplinar para apurar a conduta do juiz.
Nos dois últimos casos descritos, portanto, percebemos
a diferença de tratamento para com as partes com relação ao recente caso da
juíza que se apiedou do preso que estava com frio. Além de impactante, é
discrepante demais. É visível a falta de proporcionalidade no tratamento dado
ao réu e aos demais sujeitos do processo. A grande questão é: por quê? Será que
os direitos humanos só devem ser assegurados em favor dos que cometem crimes e
atrocidades, considerados por uma grande parcela da justiça como “vítimas da
sociedade”?
O
que justifica todas estas condutas e comportamentos de juízes das mais variadas
instâncias que afrontam a própria lei para defender apenas um lado? Cadê a imparcialidade
da justiça brasileira? Os direitos e garantias fundamentais de qualquer pessoa
não podem ser violados, inclusive, os de um presidiário ou condenado pela lei.
No entanto, os juízes têm que exercitar o bom senso e não extrapolar as suas
funções, enquanto prestadores de serviço público, a de proteger a sociedade da
criminalidade, condenar comportamentos ilícitos e punir os infratores.
De
certo que não há que maltratar os presos, dando o tratamento adequado que a própria
lei e os bons costumes exigem, mas também não tem que bajular aqueles que são
responsáveis pela dor e sofrimento de tanta gente. Aquele café oferecido pela
magistrada, além de representar o total descaso para com as verdadeiras vítimas
da sociedade, possui um sabor amargo das inúmeras perdas sofridas com a
criminalidade. E Luan Gomes bebeu com a tranquilidade de que a impunidade reina
no país da bandidolatria.
Foto: Google
Comentários
Postar um comentário