Deus por todos e cada um por si


 

Recentemente, li numa reportagem que um dos chefes do PCC (Primeiro Comando da Capital) foi morto a pauladas pelas próprias vítimas após invadir uma residência localizada no Balneário Praia Pernambuco, no Guarujá (Baixada Santista). Confesso que fiquei chocada com a notícia, pois nunca tinha ouvido falar na morte de um bandido pelas mãos de civis, ainda mais por se tratar de um dos líderes de facção criminosa! Após o espanto, a minha segunda reação foi de tristeza e indignação, pelo fato da violência está tão alta a ponto da polícia não dar conta da criminalidade no país. A população está tendo que se virar sozinha.

Não concordo com o pensamento de que as pessoas devam fazer justiça pelas próprias mãos, pois as leis existem para exercer este papel (apesar de vivermos um período distópico da justiça brasileira). Contudo, de acordo com a polícia civil e o Ministério Público de São Paulo, as vítimas agiram em legítima defesa, em razão de uma delas ter recebido um tiro e outra quase ter sido feita de refém. Afinal, não bastou roubar os pertences das vítimas, o bandido ainda disparou três tiros para amedrontá-las, acertando a perna de um dos homens (havia três no total), e também quis fazer uma das mulheres de refém com o intuito de obter uma transferência via Pix. Para isso, apontou a arma, um revólver calibre 28, para forçá-la a ir junto com ele e o comparsa que estava junto no local do crime.  

Acredito que não havia a necessidade do óbito do infrator que, segundo a polícia civil, apanhou até a beira da piscina da casa, onde caiu, bateu a cabeça no registro de água e faleceu. Já o comparsa fugiu e está sendo procurado pela polícia. Entretanto, não julgo a reação destas pessoas, até mesmo porque ninguém sabe como irá reagir quando exposto a uma situação de perigo como esta. O instinto de sobrevivência fala mais alto, em especial, quando se trata de salvar a própria vida e a de sua família.

Nestas horas a gente não raciocina direito, apenas se defende ou defende alguém que ama, ainda mais quando um bandido aponta uma arma na cabeça de sua esposa. O ideal mesmo é não reagir sob nenhuma circunstância, mas como havia dito antes, não há como prevê a reação de cada um. O instinto é mais forte até quando, por exemplo, você pensa apenas em si e evacua do local, deixando os outros para trás. Não estou aqui para julgar ninguém. Porém não consigo imaginar tamanho desespero e pavor desta família. E para ser sincera, nem quero tentar. O que era para ser uma linda recordação de um momento especial em família tornou-se um verdadeiro pesadelo.

É pública a informação de que havia duas mulheres e quatro crianças indefesas na residência que foi invadida, razão pela qual é compreensível a reação mais concisa e agressiva dos homens para conter os dois criminosos. Talvez, se eles tivessem apenas subtraído os pertences (sem ferir ninguém), e ido embora, a história teria um desfecho diferente – apesar de já terem abalado o psicológico daquelas pessoas e o momento de diversão em família ao invadir a propriedade – Mas cada ação enseja uma reação e o integrante do PCC arcou com as consequências do crime cometido. Vale ressaltar que  não aprovo as condutas de furtar ou roubar aquilo que não lhe pertence, mas já que a bandidagem anda solta, antes perder um objeto do que a vida em si.

Este caso e tantos outros que acontecem diariamente me fazem refletir sobre uma das maiores causas do aumento da criminalidade no país, entre elas, a falta de leis mais severas e maior atuação da justiça para aplicá-las de modo que beneficie a sociedade – trazendo maior segurança jurídica e amenizando as sequelas do crime – ao invés de favorecer e beneficiar aqueles que cometem crimes, principalmente os de homicídio, roubo, latrocínio, estupro, etc. É lamentável dizer, mas o crime compensa no Brasil. E muito!

O ordenamento jurídico brasileiro tem que pensar mais nas vítimas e procurar meios concretos de assegurar a dignidade, a segurança e a integridade física da população. No entanto, em muitos casos recentes, o que testemunhamos é a condenação das vítimas por autoridades públicas, pelo Poder Judiciário e algumas mídias por elas terem se defendido de criminosos, verdadeiros opressores da sociedade. O que é ilógico e tolamente distorcido da realidade. Em contrapartida, diversos infratores e delinquentes estão recebendo penas muito brandas e benefícios que diminuem consideravelmente a pena ou que incitam o crime como, por exemplo, a bolsa-presidiário.

O benefício tem o valor fixo de um salário-mínimo, sendo pago apenas aos dependentes do preso, enquanto o segurado estiver recolhido à prisão. Imagine só: alguém perde um pai, mãe, esposa ou um marido assassinado por um bandido e quem recebe ajuda do Poder Público é a família do agressor? Como assim? E a família da vítima, como fica? Quem vai sustentar aquela família que perdeu um integrante ou até mais de um por conta da criminalidade?

O Código Penal Brasileiro não pode permanecer em 1940, época em que foi criado, tem que se atualizar e se moldar a realidade dos dias atuais. O ordenamento jurídico precisa de uma grande mudança de mentalidade e agir em prol daqueles que são as verdadeiras vítimas do crime. Até lá, infelizmente, os bandidos irão continuar matando, roubando e cometendo atrocidades, pois de fato o crime compensa muito mais do que o trabalho honesto. E as vítimas terão que se defender por conta própria ou com o apoio da polícia para não morrer nas mãos de criminosos.

 

 

Foto: Pinterest

Fontes:

https://revistaoeste.com/brasil/vitimas-reagem-a-assalto-e-matam-nego-zulu-um-dos-lideres-do-pcc/

https://oantagonista.com.br/brasil/chefe-do-pcc-e-morto-a-pauladas-durante-assalto-no-guaruja/

https://noticias.uol.com.br/colunas/josmar-jozino/2024/01/01/vitimas-matam-chefe-do-pcc-a-pauladas-durante-roubo-a-residencia-no-guaruja.htm

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