Empoderamento feminino ou apenas rótulo para vender?

 


Em meio ao grande sucesso internacional de Anitta, em especial, com o reggaeton “Envolver” – 1º lugar no rancking mundial do Spotify e em 74º no Hot 100 da Billboard Global, venho atentar para a hipersexualização de cantoras no meio do entretenimento: um fenômeno que acontece há décadas e está totalmente enraizado na cultura Pop do Brasil e de vários outros países pelo mundo. E em que consiste este fenômeno? Na exposição e comercialização do corpo de mulheres, utilizando-o como um produto comercial pelo qual muitas artistas se promovem, apresentando-se seminuas ou praticamente nuas para o público.

Contudo, quando o assunto é sexualidade, não há como não mencionar uma figura de bastante impacto e renome na cultura popular norte-americana, a cantora Madonna, cuja carreira-solo ascendeu de maneira vertiginosa nos anos 80, com músicas icônicas, a exemplo de: “Like A Virgin”, “Material Girl”, “Borderline”, “Like A Prayer”, “Papa Don’t Preach” e tantos outros sucessos. Naquela época, a cantora de apenas 22 anos fez história ao quebrar tabus sobre sexualidade por meio de canções e apresentações musicais ousadas, extravagantes e bem apelativas.

Madonna revolucionou o cenário musical dos anos 80 e 90, desafiando o conservadorismo da cultura americana; cativando o público com o seu jeito inovador e autêntico de cantar, de se vestir e de se posicionar diante de assuntos polêmicos. Como consequência tornou-se uma grande referência na música pop, influenciando artistas e mulheres do mundo inteiro, razão pela qual é conhecida até hoje como a “Rainha do Pop”.

Apesar das inúmeras conquistas que as mulheres obtiveram em vários segmentos ao longo da história, o empoderamento feminino, a valorização da mulher no mercado de trabalho e a luta pelos direitos iguais de gênero ainda não estão totalmente estabelecidos na sociedade. E acredito que estão longe de serem alcançados com o devido respeito, merecimento e cooperação. No entanto, ouso dizer que na busca pela igualdade de direitos, muitas mulheres desvirtuaram os ideais do feminismo ao acreditar que empoderar-se significa expor os seus corpos da maneira como quiser.

Eu sou mulher e como tal não coaduno com esta ideia. Defendo sim, o direito de todas as mulheres conquistarem seus respectivos lugares na sociedade, de exercerem suas profissões com dignidade e reconhecimento e, de serem autossuficientes (independentes financeira e emocionalmente dos homens). Porém, não enxergo como uma vitória o fato das mulheres andarem praticamente seminuas pelas ruas e rebolarem suas bundas como discurso do empoderamento feminino. Muito pelo contrário, tornam-se alvos de homens que não as respeitam e entretenimento para o público masculino que consome este tipo de conteúdo.

Pois, verdade seja dita, por mais que Anitta tenha chegado ao topo por mérito próprio, ela não deixa de ser mais um produto do meio machista em que vive. Afinal de contas, se ela não rebolasse a bunda por aí, será que de fato a artista faria tanto sucesso assim? Confesso que tenho minhas dúvidas. Principalmente quando se trata do mercado da música, em que a mentalidade dos grandes empresários, homens em sua maioria, ainda impera e estabelece o padrão do que é comercial ou não. E convenhamos de que sexo sempre foi um tema que vende e chama a atenção do público.

Vale ressaltar que a construção audiovisual da mulher dita “empoderada” foi construída com base na visão patriarcal e sua tendência para a valorização e enaltecimento da pornografia, que dita a principal regra de que para vender o trabalho e a arte de uma mulher, seu corpo também tem que ser comercializado. Mas expor o corpo é realmente sinônimo de poder? Ou foi apenas um rótulo para satisfazer o ego feminino e conter as mulheres no sentido de estagnarem na busca por mudanças mais significativas no que diz respeito à igualdade de gênero?

A liberdade sexual conquistada pelos diversos movimentos revolucionários das décadas de 60 e 70 teve como maior consequência a banalização do sexo, ao tornar a nudez em público uma forma de protesto e expressão artística, muitas das vezes, realizada de modo desrespeitoso, vulgar e escrachado. As pessoas querem simplesmente expor seus corpos em via pública ou em redes sociais para escandalizar, sensualizar e enaltecer a vaidade e nada mais. Ato que se tornou bastante frequente nos dias atuais com o uso das plataformas digitais como Instagram, Facebook, Tinder, etc.

Reconheço o talento e a visão empresária de Anitta, que construiu uma carreira sólida e invejável, mas me questiono se é o tipo de empoderamento de que a mulheres realmente necessitam. Quais os verdadeiros valores que estão sendo passados para as novas gerações de jovens que tem a artista como uma das maiores referências de mulher bem sucedida do século XXI? A meu ver, este tipo de empoderamento só mantém uma realidade que já existe há muito tempo: a do machismo, da inferiorização das mulheres, de sua submissão aos homens que as tornam objeto do prazer masculino. Anitta, assim como Madonna tornaram-se ícones da liberdade sexual e do feminismo, mas com qual intuito e a que custo?


Foto: Reprodução

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