Orgulho gay
No dia 14 de junho deste ano ocorreu
a primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis, transexuais, queer, intersexuais e assexuados) que foi realizada
100% online. Um novo marco na história, principalmente para as
organizações responsáveis pelo evento que tiveram que se reinventar e criar
novos meios de realizar a tão famosa passeata gay. Não há nenhuma surpresa
sobre o fato da maior manifestação social de rua sobre direitos humanos não ter
ficado de fora das redes sociais para defender e reafirmar os direitos
LGBTQIA+.
Apesar da nova formatação por
meio das plataformas digitais, nem mesmo a pandemia e o isolamento social foram
capazes de impedir a realização deste evento, o maior do gênero no
planeta terra. Trata-se da Parada do Orgulho LGBTQIA+ que ocorreria em São
Paulo, movimentando milhões de pessoas na Avenida Paulista. O slogan escolhido deste ano foi “Sejamos o pesadelo dos
que querem roubar nossa Democracia”. Contudo, debater sobre a luta
dos direitos civis dos homossexuais no Brasil e no mundo ainda é sinônimo de
muitas discussões complexas e polêmicas.
Em tempos em que o termo
"lugar de fala" está sendo fortemente utilizando nas redes sociais
para protagonizar aqueles que nunca tiveram espaço para se expressar
livremente, na atualidade, o termo adquiriu uma roupagem ainda mais
significativa ao romper com a hierarquia de discursos unilaterais,
conservadores e altamente preconceituosos.
Para aqueles que não fazem
parte deste grupo, mas que ainda sim, defendem o direito a liberdade e
igualdade de "raça", gênero, religião e orientação sexual, vale a
pena conhecer um pouco mais da trajetória desta grande manifestação que
conquistou milhões de adeptos no país e no mundo inteiro.
O movimento pelos direitos
LGBTQIA+ no Brasil teve início no final dos anos 70, sob a forte influência da
revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York em 1969. Naquela época, em todos os
estados americanos, era considerado crime pessoas do mesmo sexo se
relacionarem. Entretanto, diversos cidadãos estavam cansados de sofrer
repudio e agressões da polícia em razão de suas orientações sexuais.
A partir deste contexto
histórico, o movimento foi crescendo no Brasil e obtendo diversas conquistas ao
longo da trajetória na luta pelos direitos LGBTQIA+, desde a retirada da
homossexualidade da lista de doenças pelo Conselho Federal de Medicina
(1985), autorização da cirurgia de mudança de sexo (2002), reconhecimento da
união homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal (2011), a conversão da união
estável homoafetiva em casamento civil autorizado pelo Conselho Nacional de
Justiça (2013), o registro civil dos nomes de transexuais e transgêneros sem a
necessidade de cirurgia (2018) até o enquadramento da homofobia e da transfobia
na lei de crime de racismo (2019).
Acredito que esta última
mudança se tornou um grande divisor de águas, pois se a homossexualidade chegou
a ser considerada crime em países como os Estados Unidos, hoje, a exemplo do
Brasil, a discriminação em razão do gênero e sexualidade é considerada crime
equiparado ao de racismo. Mesmo não havendo uma lei específica para defender os
direitos LGBTQIA+ como há na Lei Maria da Penha e no feminicídio para as
mulheres, o ordenamento jurídico brasileiro tende a acompanhar a evolução
cultural da sociedade, mesmo que a passos lentos. A mudança de mentalidade
requer tempo, contudo, a comunidade gay terá que continuar lutando, se
posicionando ativamente na sociedade e acreditando no poder de transformação
das palavras, do conhecimento e dos valores que defendem.
A conquista mais recente se
deu no mês de maio deste ano com a declaração do STF sobre a
inconstitucionalidade de normas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) e do Ministério da Saúde que proibiam a doação de sangue por homossexuais,
sendo altamente discriminatórias. Nos tempos de isolamento social e de total
restrição de saídas em vias públicas, os bancos de sangue estão precisando
urgentemente de novos doadores, não havendo motivos para não permitir que
cidadãos pertencentes ao grupo LGBTQIA+ pudessem doar.
Infelizmente, os
relacionamentos homoafetivos ainda são fortemente associados à promiscuidade e
ao denominado "grupo de risco". Vivemos em tempos modernos cujos
estereótipos e pensamentos retrógrados devem ser deixados para trás, até
mesmo porque não há que se falar em grupo de risco e sim, em comportamento de
risco que pode ser atribuído a heterossexuais e homossexuais que não fazem
uso de camisinha durante o ato sexual, que fazem uso de entorpecentes, dentre
outros. Aliás, já se foi a época em que a AIDS, conhecida como a
"peste gay" foi associada à homossexualidade.
Em âmbito internacional, vale
ressaltar que a Câmera de Deputados, nos Estados Unidos, aprovou recentemente
uma lei que acrescentou os conceitos de orientação sexual e identidade de
gênero ao artigo 7º da lei de Direitos Civis. Apesar de ainda não existir uma
lei federal uniformizando os direitos LGBTQIA+ em todo o país norte-americano,
esta mudança irá impedir que homossexuais sejam demitidos em razão de sua
orientação sexual.
Foram muitas conquistas
obtidas ao longo desta árdua trajetória, contudo, o número de assassinatos de
gays e travestis ainda é muito grande no Brasil. A mudança de mentalidade e
comportamento social requer tempo, mas o grupo LGBTQIA+ vem mostrando o seu
empoderamento por meio de ações afirmativas como a própria passeata gay.
O arco-íris, símbolo
emblemático da luta dos direitos homossexuais, representa a diversidade de
gênero, sexualidade e formas distintas de amar. A sociedade precisa
urgentemente perceber que todos os seres humanos amam e, querem ser amados e
respeitados pelo que são. A bandeira do arco-íris, por meio de suas
cores, traz justamente a mensagem de paz que muitos cidadãos
almejam para viver em sociedade, sem julgamentos ou preconceitos. E acima
de tudo, representa o desejo pela inclusão social.
Para reforçar os ideais
LGBTQIA+ e animar todos que tiveram seus desejos frustrados por conta da
pandemia e que foram impedidos de pular na Avenida Paulista, a artista
porto-riquenha Yvette Mattern preparou uma projeção de luzes com as setes cores
do arco-íris, que pôde ser vista a 60 km de distância sobre os céus da capital
paulista. Trabalho conhecido como “Global Rainbow”, que significa arco-íris
global em português. Um espetáculo ao ar livre.
Vale ressaltar que a Parada do
Orgulho LGBTQIA+ é o espaço em que diversas pessoas têm a oportunidade de
mostrar quem realmente são, sem ter que esconder sua verdadeira essência,
sentimentos e identidade. O que para alguns significa apenas um desfile
qualquer, para tantos outros, é um espaço de pertencimento, orgulho e amor
próprio.
Foto: Reprodução
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