O amor de Carolina


            Carolina acordou no meio da noite desejando que tudo não passasse de um mero sonho do qual pudesse apagar de seus pensamentos todo o tormento, toda aquela ilusão. A cama se encontra encharcada de suor. O corpo colado sob os lençóis. A respiração lenta e ofegante. Para Carolina as horas passavam lentamente. Cada minuto, cada segundo marcava a ausência dele. Do homem que a fizera sentir-se mulher.

O gosto do beijo ainda sentia em sua boca. Um beijo doce e ardente. Agora sentada na cama, Carolina leva a mão à boca e a toca. A lembrança de um beijo faz arrepiar os pelos de seu corpo.

A melancolia a faz levantar. Não queria chorar de novo. Acende um cigarro para acalmar-se. Logo em seguida, se despe vagarosamente. Sentia-se sem forças. Os sonhos sugavam a sua vida. Embaixo do chuveiro, deixa a água escorrer por todo o seu corpo. Finalmente chora. Deixa que as lágrimas purifiquem a sua alma.

Na rua, passa em frente ao bar falido que marcara aquele primeiro encontro. Carolina não conseguia disfarçar que sentira certo interesse por aquele rapaz tão engraçado, charmoso com sua jaqueta de couro e que sorrira para ela. O sujeito estava completamente bêbado, manifestando seu amor ao futebol, à música e à vadiagem. Ela o contemplou com o olhar fascinado. Naquele espaço vazio só restaram-lhe lembranças. Carolina tenta fugir delas todos os dias. 

Um bar mais próximo tornou-se o seu mais sagrado refúgio. Não resiste. Entra para tomar uma bebida. Pede ao garçom um copo de Campari. Toma-o num minuto. A bebida descendo ardentemente em sua garganta. Em seguida, pede outro. Embora tentasse, a bebida não conseguia fazê-la esquecer.

As idas ao bar tornaram-se uma rotina, um vício na vida de Carolina. Ela queria embriagar-se em sua total solidão.  Não queria mais se apaixonar. Tinha medo de amar novamente. Como poderia trair os sentimentos que ainda sentia por ele¿

Carolina ainda sente saudade das conversas, dos beijos e do sorriso que a atraía. Excitava. Sente falta dos momentos que viveram juntos e que a fizeram feliz por certo tempo. Ele era o total oposto dela. Contudo, as diferenças a fascinava por completo ao mesmo tempo em foram o motivo da ruína do amor que um sentia pelo outro.

Depois de três horas passadas despercebidas, Carolina se encontra cambaleando pelas ruas, ainda perdida em pensamentos. Ela se vê assim todos os dias, num beco sem saída, perdida na madrugada fria. Descalça os sapatos. Ascende um cigarro. Dá a primeira tragada e o deixa no canto da boca.

De amarga bastava a vida, mas Carolina não dava a mínima.


            Foto: Reprodução
Texto: escrito em 10/01/2006 e atualizado em 07/07/2020

Comentários

Postagens mais visitadas