Decotelli: como perder um Ministério em cinco dias




Desde o pronunciamento do Presidente Jair Bolsonaro indicando o professor Carlos Alberto Decotelli para assumir o cargo de Ministro da Educação, que estava temporariamente vago após a saída abrupta de Abraham Weintraub, inúmeras revelações sobre a formação acadêmica de Decotelli viraram motivo de escândalo na mídia e em diversas redes sociais. Contudo, transcorridos apenas cinco dias após a sua indicação, Carlos Decotelli não aguentou a pressão e pediu demissão antes mesmo de assumir o cargo.

O que dizer do comportamento imoral, antiético e, inclusive, ilegal de Carlos Decotelli, ainda mais quando estava prestes a assumir o cargo de Ministro de um país? Ora, convenhamos que mentir sobre a sua própria formação acadêmica não foi um bom início para conquistar espaço e tampouco admiradores. Se o objetivo era impressionar seus colegas do ministério e a população brasileira, o tiro saiu pela culatra, pois não só desagradou ao Presidente da República, como angariou uma legião de indignados pelo Brasil inteiro.

Esta situação vexatória evidencia como a educação ainda continua sendo totalmente relativizada em um país cuja maior parte da população é analfabeta ou semianalfabeta. Segundo o senso do IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística), referente à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do ano passado, o Brasil possui mais de 11,3 milhões de pessoas analfabetas.

É muito lastimável que o professor Carlos Decotelli tenha agido de maneira tão inconsequente ao se intitular doutor, o que foi desmentido pelo reitor Franco Bartolacci, da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina. Como se não bastasse mentir sobre o doutorado, ele também adicionou ao currículo, o pós-doutorado que nunca foi confirmado pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, tudo isso sem falar da acusação que lhe vem sendo imputada, de que teria plagiado 70% de sua dissertação de mestrado.

Uma revelação mais chocante do que a outra, principalmente quando se trata de um cidadão que exerceria o alto cargo de Ministro da Educação! Quanta incoerência. Entretanto, analisando sob o ponto de vista cultural e social, é compreensível o desejo de muitos em tornar-se doutor, título de grande prestígio no âmbito acadêmico e profissional. Apesar disso, os meios não justificam os fins e ao forjar os títulos de doutor e pós-doutor que não conquistou, Decotelli ultrapassou todos os limites entre o certo e o errado; o ético e antiético; o razoável e o imponderável.

A questão toda perpassa sobre a “ingenuidade” de Carlos Decotelli, ao acreditar que estas mentiras não seriam desvendadas com o tempo, ainda mais nos dias atuais em que a população exige ficha limpa de todos os servidores públicos, sejam eles concursados ou nomeados pelos chefes de Estado. O que torna inaceitável o fato de tentar enganar e ludibriar a todos com um currículo invejável, mas irreal. 

Não há palavras que justifiquem os atos do professor, pois mesmo não sendo doutor e nem pós-doutor, poderia ter contribuído de forma positiva e significativa para o Brasil. Mas por que Decotelli não teve a humildade de aceitar a sua própria trajetória acadêmica? Por motivos de vergonha, inferioridade? E partindo deste pressuposto, por que um título é mais enaltecido do que a própria formação pessoal, enquanto indivíduo?

Afinal de contas, desvio de caráter ou a completa falta deste, é algo muito mais grave e que repercute negativamente no currículo de qualquer cidadão que deseja ser reconhecido pelo seu trabalho, pois não é o título em si que traz prestígio, mas a maneira como o profissional conduz o seu labor em sociedade, preservando a ética, a moral e conduta ilibada. Pelo menos assim deveria ser.

A indignação de centenas de milhares de pessoas sobre o fatídico caso só demonstra o quanto a nação está cansada de tanta corrupção, mentiras e falácias por partes daqueles que estão a serviço do Estado. O brasileiro está mais atento aos atos de seus governantes e, portanto, mais preparado para criticar e reprovar condutas e posicionamentos governamentais que são contraditórios ou insatisfatórios para a população. Infelizmente, a sociedade paga o preço de tanto descaso para com as reais necessidades do povo, irresponsabilidade dos agentes e gestores públicos, má administração do dinheiro público e tomada de decisões precipitadas e inconsequentes.

Não obstante, penso que o professor Carlos Decotelli não teria a necessidade de passar por tal constrangimento, por dois princípios básicos: o primeiro, não deveria ter faltado com a verdade sobre si mesmo e, em segundo lugar, se a equipe que assessora o Presidente Jair Bolsonaro, antes mesmo de fazer a indicação do Ministro, tivesse feito uma análise mínima e uma apuração da vida pregressa do candidato a assumir tal posto.

Todavia, a única explicação para o lamentável episódio é o fato de que o Brasil continua sendo o país do “jeitinho”, em que tudo pode ser feito desde que não seja visto ou flagrado. O famoso jeitinho brasileiro em que as pessoas agem de forma arbitrária, infringindo leis e os bons costumes, sem, contudo, refletir sobre as consequências de suas ações ou até mesmo prevendo o resultado, mas não se importando com ele. O que é ainda pior. Entretanto, toda ação possui uma reação e um alto preço a ser pago.

Nesta brincadeira, Carlos Alberto Decotelli já é o oitavo membro do primeiro escalão do Governo Federal a deixar o cargo em tão pouco tempo, trazendo uma instabilidade muito grande na gestão do atual presidente, principalmente por envolver duas das principais Pastas do Governo: saúde e educação. Dois dos maiores pilares que sustentam um país.

A verdade é que o professor nem chegou a ser ministro, pois pediu demissão antes de ser empossado no cargo, tornando-se um dos nomeados com passagem mais rápida no ministério. É de certo que as pessoas irão cometer inúmeros erros ao longo da vida, mas infelizmente, este erro custou à Decotelli, a perda do Ministério da Educação e a chance de mostrar aos brasileiros que poderia ter feito a diferença neste país.


Foto: Reprodução





















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