Caos em Plena Greve da PM
No dia trinta e um de janeiro, a Polícia Militar entrou em greve. Nos primeiros instantes, a PM ocupou um trecho da Avenida Paralela no sentindo aeroporto/Tancredo Neves. Estava dirigido o meu carro em direção a Faculdade Unijorge para o meu segundo dia de aula, enquanto escutava o programa da Band News no rádio. Ouvi de relance, a notícia que retratava sobre a greve. Não consegui entender direito o que estava acontecendo, pois não tinha prestado a atenção no início. Apenas, reparei que o trânsito estava um pouco fora do normal para o horário em questão.
Em sala de aula, conversando com os meus colegas e por assim dizer, futuros jornalistas, foi confirmado a greve da PM. Lembrei das palavras indignadas de Ricardo Boechatt, se referindo ao descaso da Polícia Militar com a segurança pública da cidade. Concordei com ele: realmente, é uma vergonha a situação em que nos encontramos. Como é possível? Depois de uma rápida conversa sobre o assunto, a professora deu continuidade a aula de Práticas de Reportagem. Até aquele momento, a cidade se encontrava em suas normalidades.
No dia seguinte, uma quarta-feira, ouvi o rádio com mais atenção durante o meu percurso para a faculdade. Parece que a PM está insatisfeita com as condições de trabalho e exige aumento de salário, entre outras regalias. Governo e a PM acertam reunião para discutir novas possibilidades. Apesar da normalidade habitual, as pessoas começam a duvidar da segurança da cidade. O que estava para acontecer, já era previsível. Bom, pelo menos para alguns cidadãos.
Na quinta-feira, passei a manhã em casa. Consegui aproveitar a matéria de Sociologia, cursada no meu primeiro semestre de Direito na Ruy Barbosa. Portanto, estou com o horário livre durante as manhãs deste dia. Mesmo ciente da greve, fui ao shopping Paralela às quatro da tarde para comprar um presente de aniversário. Voltando para casa, me deparei com o verdadeiro caos em que a cidade, ou melhor a Paralela, se encontrava.
Centenas de carros imobilizados pelo trânsito. Pessoas desesperadas correndo no meio da pista. O que fazer, quando tudo ao seu redor parece desabar? Não conseguia raciocinar direito. O medo estampado nos rostos das pessoas, também tinha se apossado do meu. Um casal veio bater no vidro do meu carro, me orientando a sair e correr para o Shopping Paralela à procura de proteção. Quando me vi, estava correndo descalça pela rua, segurando na mão esquerda, o par de sandálias rasteira e na outra, somente a bolsa com o meu celular e carteira. O resto, deixei no carro abandonado. Mesmo assustada, me lembrei de trancar o carro. Não me atrevi a olhar para trás e segui freneticamente para o estacionamento do shopping.
Ainda no estacionamento, avistei alguns carros que saiam da garagem. Pedi para que não saissem e falei do que tinha ocorrido a poucos minutos atrás.
O coração batia acelerado. Não conseguia respirar direito. Tampouco falar. Talvez, pela corrida que dei até o estacionamento ou simplesmente, pela agonia de estar passando por aquela situação. Parecia que a minha voz iria sumir a qualquer momento. As lágrias escorrendo em meu rosto, só conseguia chorar.
Escondida no banheiro infantil, não conseguia pensar em mais nada a não ser pela invasão do shopping pelos assaltantes que estavam aterrorizando as pessoas nas ruas. Aliás, que policiais estariam alí para nos socorrer? Não havia ninguém. "Eles" tiraram proveito disso e iriam saquer o Shopping Paralela.
A primeira ligação que fiz foi para o meu namorado. Depois, para a minha família. Mais tranquila, me disseram para ir ao cinema, assistir um filme. Antes de entrar na sala, conversei com três funcionários. Um deles, inclusive, tinha acabado de chegar e relatava a situação atual do lado de fora. Mais uma vez, me senti como se estivesse lá, correndo apavorada como as outras pessoas. Procurando um lugar seguro para ficar. Boatos foram espalhados. Disseram que a Faculdade FTC tinha sido invadida e que houve trocas de tiros... Disseram também que tinha ocorrido o arrastão nos shoppings Salvador Norte e Iguatemi. Minha aflição aumentara ainda mais.
Ainda no início do filme, meu namorado ligou, dizendo que meu pai já se encontrava no shopping e que estava a minha espera. A melhor notícia até então. Só pensava em ir para casa. Fomos até a entrada principal do shopping para pegar o meu carro que tinha deixado na rua. Já era sete e meia da noite e o trânsito fluia um pouco mais rápido. Ao passar pela FTC nos deparamos com o fator que estava causando todo aquele desespero. Dois ônibus estavam bloqueando a passagem dos carros, restando apenas um espaço muito pequeno para a passagem. Mais uma vez, me apavorei com o que vi.
Liguei novamente para o meu namorado e pedi que ele ficasse na linha, mesmo que não trocassemos nenhuma palavra. Precisava ser reconfortada de alguma jeito e aquela foi a única maneira que consegui. Em minha mente, rezava para que Deus nos protegesse e para que todo aquele tormento terminasse de vez. Minha maior felicidade naquele dia, foi voltar para casa ao lado de meus pais e minhas irmãs.
Na sexta-feira, três de janeiro, grandes faculdades cancelaram as aulas para o bem próprio dos alunos e funcionários. Ruas desertas. Silêncio e pavor. Nos jornais do dia anterior, se lia que o comércio em diversos bairros tinham fechado suas portas mais cedo. Bancos foram arrombados por vândalos. Ainda pior, a greve se proliferou para outras regiões metropolitanas, como Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, entre outros.
O mais assustador foi descobrir que o incidente dos ônibus ocorrido na quinta, tinha sido arramado pela própria Polícia Militar. Acredito que em torno de quinze policias encapuzados participaram desse esquema. Além de outros que estavam no CAB, criando confusão com a população e policias do ASPRA que continuavam trabalhando. Que decepção! Já não basta a greve e a polícia ainda se acha no direito de criar o caos! É uma vergonha!
Um terço da PM está em greve. Ainda não há indícios de acordo. Até quando esta palhaçada vai durar? O governador Jacques Wagner pediu ajuda a Presidente Dilma Rousseff para amenizar a situação. Em torno de dois mil policias federais foram convocados para Salvador como reforço da segurança. Quinhetos chegaram na própria quinta-feira.
Em pleno sábado, as notícias continuam desastrosas. Nos jornais, se lê sobre mortes (35 no total), mercados e lojas assaltados. Devastidão. Levaram tudo. Não podemos permitir que levem a nossa dignidade e a nossa fé. Mesmo sem poder de voz, temos de lutar pela segurança de nossa famílias e amigos. Como cidadãos, exigimos uma solução para este problema. Quando será que o Governos tomará uma decisão definitiva quanto a greve da PM?
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