A História tende a se Repetir
É
muito triste e lamentável o que está acontecendo com o Rio Grande do Sul. Para quem
não está a par dos acontecimentos históricos do estado gaúcho, jamais
imaginaria que esta não é a primeira catástrofe climática que assola a região
sul do Brasil. Inúmeras enchentes já aconteceram ao longo de décadas, inclusive
a de 1941 que causou um enorme estrago em diversos bairros de Porto Alegre. Na
época, o Rio Guaíba chegou a medir 4 metros e 76 centímetros de altura. Porém,
o cais do porto de Porto Alegre tinha sido construído a uma altura de três
metros em relação ao leito do Guaíba, não suportando o excesso de água.
O
mais curioso é que esta nova enchente, com o mesmo potencial catastrófico da de
1941, apresenta algumas caraterísticas em comum com ela: 1) Se deram no mesmo
período, entre o fim de abril e o início de maio. Diferentemente das enchentes
anteriores, como as de 1926, 1928 e 1936 que ocorreram no segundo semestre do
ano, normalmente, no mês de agosto. 2) O Vento do Quadrante Sul também agravou
a situação climática ao retardar o escoamento da água para a Lagoa dos Patos (a
maior laguna da América Latina, com 265 km de comprimento e 60 km de largura),
o que contribuiu para o rápido aumento do volume do Rio Guaíba e como consequência,
o extravasamento de água.
Portanto,
o que mudou de uma tragédia para a outra? De acordo com o jornalista Rafael
Guimaraens, autor do livro “A Enchente de 41”, a água do Rio Guaíba era
transparente e muito mais limpa do que hoje. Deste modo, além de várias cidades
estarem submersas e muitas pessoas terem perdido tudo, as vítimas e as equipes
de salvamento ainda estão tendo de lidar com uma quantidade enorme de lama e
água suja, podendo contrair várias doenças. Vale ressaltar que a água que
inundou algumas ruas passou ainda pela tubulação de esgoto. Segundo Rafael
Guimaraens, houve um surto de leptospirose que teria provocado aproximadamente
vinte e seis mortes após a enchente de 1941.
Apesar
de não haver um número consolidado com relação à quantidade de mortos e feridos
daquela época, os óbitos foram muito maiores na atualidade, levando-se em
consideração o tamanho da área afetada pelas enchentes que alagaram quase o
estado inteiro. É de se espantar como um estado que já sofreu tanto com as enchentes
e que possui um sistema de barragem, não foi forte o bastante para suportar a
quantidade de chuvas em razão da sua falta de manutenção e mau funcionamento. Afinal,
cidades como Porto Alegre, que estão sujeitas a alagamentos, já é um fato notório,
inclusive das autoridades públicas responsáveis. Infelizmente, o ano de 1941
existe para comprovar isso.
Entretanto, não há como negar que a mudança
climática vem afetando países do mundo inteiro e contribuindo ainda mais para o
agravamento dos problemas ambientais em diversos lugares. Porém, as experiências
anteriores devem ou pelo menos deveriam ser assimiladas com mais veemência, senso
crítico e aprendizado para que o Estado tome medidas mais assertivas com
relação ao combate aos alagamentos para que o passado não se repita. A população
deve sempre cobrar e acompanhar as obras públicas (as privadas também) que são
feitas na cidade para justamente saber como elas estão e se funcionam
corretamente.
Que a partir de agora, estas questões sejam levadas mais a sério pelo Poder Público para que as novas barragens a serem construídas não sejam feitas de qualquer jeito ou de forma precária e que haja um planejamento mais controlado e eficiente do escoamento das águas pelo sistema de esgoto. Que esta tragédia sirva de exemplo para que as novas gerações não passem pela mesma dor, pois quando não aprendemos com os erros do passado, tendemos a repeti-los ciclicamente. Que continuemos orando pelo povo gaúcho e por dias melhores.
Foto:
Google (capa do Livro do jornalista Rafael Guimaraens)
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