Diga NÃO ao estupro!


 Diga não para a cultura do estupro!


No dia 1º de março, a brasileira, Fernanda Santos, veio a público falar sobre um lamentável caso que aconteceu com ela: foi mais uma vítima de um estupro coletivo na Índia. Além de ter sido espancada e estuprada por sete homens, os agentes ainda roubaram alguns pertences dela e do marido, Vicente Barbera, de nacionalidade espanhola. Eles estavam acampando perto de uma estrada na região de Dumka, no estado de Jarcanda, quando foram surpreendidos pela presença dos agressores.

O casal é conhecido, no Instagram, por viajar pelo mundo numa moto. No total somam-se 66 países visitados, cinco anos de aventuras e 170.000 (cento e setenta mil) quilômetros rodados de estrada. Porém, mesmo já tendo visitado países considerados violentos como o Irã, Afeganistão e Paquistão, nunca tinham vivenciado, na própria pele, um ato tão bárbaro, abominável e criminoso. O que era para ter sido mais uma experiência maravilhosa, tornou-se um pesadelo difícil de esquecer.

As autoridades locais já tomaram providências, prendendo três dos agressores e dando toda a assistência ao casal, incluindo proteção e uma indenização no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). Não que o dinheiro vá resolver e muito menos amenizar o trauma que os dois sofreram, especialmente, Fernanda que teve a sua intimidade, dignidade e honra lesadas. As sequelas físicas, emocionais e psicológicas são imensuráveis e, muito provavelmente, irão perdurar por muito tempo, assombrando a pobre vítima pelo resto de sua vida.

Entretanto, a rápida e eficiente ação da polícia, em conjunto com demais autoridades públicas, demonstra o senso de justiça e reponsabilidade do governo indiano em buscar reparar a dor e o sofrimento das vítimas de estupro. Aliás, é o mínimo que se espera da atuação dos dirigentes de países que velam pela segurança e bem-estar dos cidadãos, sejam nativos ou estrangeiros. O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil), as embaixadas brasileiras e espanholas localizadas na Índia também já se pronunciaram em favor do caso de Fernanda e Vicente, afirmando que darão todo o suporte necessário ao casal.

Nas redes sociais, no entanto, algumas pessoas criticaram a jovem de vinte e oito anos por ter se exposto ao perigo, colocando uma parte da culpa nela por ter sido estuprada. Ora, ela estava acompanhada do marido e ambos estavam repousando num local que consideraram tranquilo e seguro o suficiente para acampar, pois pretendiam seguir em direção ao Nepal no dia seguinte. Infelizmente, a crueldade, a violência e a falta de humanidade estão em todos os lugares e qualquer pessoa está suscetível ao perigo, seja nas pequenas ou grandes cidades da Índia, do Brasil ou de diversos outros países.

Ademais, o estupro coletivo não é exclusividade da Índia. Quem não se lembra da jovem de 16 anos que foi violentada por, pelo menos, 30 homens, em uma comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro (2016)? E o que dizer do bárbaro caso de Queimadas, na Paraíba, em que cinco mulheres foram amarradas e estupradas numa festa com o objetivo de se serem entregues como “presentes de aniversário” de um dos violentadores (2012)? Ou das duas adolescentes de 16 anos que foram estupradas dentro de um ônibus por oito integrantes da Banda “New Hit” e um policial militar, em Ruy Barbosa, no interior da Bahia (2012)?

Esses são apenas três trágicos casos das centenas de milhares de estupro que acontecem no país e de milhões que ocorrem no mundo inteiro. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil tem cerca de 822 mil casos de estupro por dia - o equivalente a dois estupros por minuto - sendo que apenas 8,5% dos crimes são registrados pela polícia e 4,2% pelo sistema de saúde. Um número elevado que tem crescido nos últimos anos, já que a média era de um estupro a cada oito minutos, em 2019.

Portanto, a cultura do estupro ainda impera na sociedade, sendo as mulheres os principais alvos deste tipo de crime. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão, 85,7% das vítimas de estupro são do gênero feminino contra 14,3% do masculino. Além deste alarmante fato, no que diz respeito ao estupro de vulnerável (pessoas que em razão da idade, deficiência mental ou fatores externos como drogas e bebidas alcoólicas, não têm o discernimento para consentir com o ato sexual), 57,9% são crianças e adolescentes de até 13 anos de idade. Um número que abarca mais da metade da quantidade de vítimas de abuso sexual.

Acontece que nem todos os países combatem a violência do estupro com bastante rigor da lei, como é o caso da Índia, em que os maridos podem forçar o ato sexual com suas próprias esposas sem ser considerado crime (desde que elas tenham mais de dezoito anos). Além de que somente a penetração ou uso da boca na vagina, uretra ou ânus da mulher é considerado explicitamente estupro. No Brasil, por exemplo, o Código Penal define estupro de uma forma muito mais ampla:

 "Ato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso" (artigo 213, da Lei nº 2.848/1940).

Para além da falta de normas mais rígidas, outra problemática que muitas pessoas enfrentam é a enorme impunidade por parte da Justiça. Infelizmente, muitos estupradores não são punidos ou são foragidos da polícia, trazendo medo e insegurança para as vítimas e suas famílias. O combate à cultura do estupro, portanto, é uma luta diária e complexa que ainda possui muito chão pela frente.

São almas corajosas e vozes ressonantes como a de Fernanda, e a de tantas outras que não se calaram diante a violência e o pavor, responsáveis pela denúncia de seus agressores, impedindo que cometam novos crimes e perversidades. Mesmo submersas na dor, no sofrimento e, muitas das vezes, no sentimento de vergonha, elas são sobreviventes da criminalidade e verdadeiras heroínas no combate ao estupro. Meus sentimentos para todas as vítimas de estupro no mundo.

 

 

Foto: Pinterest

Fontes:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cxezykm08pxo

https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2024/03/6812713-brasileira-estuprada-na-india-diz-estar-recebendo-criticas.html

https://www.metropoles.com/brasil/vitima-de-estupro-coletivo-na-india-recebe-ataques-absurdos-na-web

https://exame.com/brasil/o-que-falta-esclarecer-sobre-o-caso-da-brasileira-que-sofreu-estupro-coletivo-na-india/

https://www.brasildefato.com.br/2022/02/13/estupro-coletivo-de-queimadas-completa-10-anos-e-mentor-do-crime-continua-foragido

https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/vitima-de-estupro-coletivo-no-rio-conta-que-acordou-dopada-e-nua.html

https://www.mpba.mp.br/noticia/39050

https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/1-estupro-a-cada-8-minutos-e-registrado-no-brasil/

https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/13541-brasil-tem-cerca-de-822-mil-casos-de-estupro-a-cada-ano-dois-por-minuto

https://revistaoeste.com/mundo/vitima-de-estupro-coletivo-na-india-brasileira-recebe-indenizacao-do-governo/


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