A perversidade do estupro: médico abusa de mulher grávida durante parto
Não
há palavras suficientes para descrever o que aconteceu no Hospital da Mulher de
São João de Meriti, região metropolitana do Rio de Janeiro. Uma monstruosidade
inimaginável: o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, estuprou
uma mulher grávida durante o parto.
Após
a realização de duas cesárias, alguns colegas de trabalho suspeitaram de que
havia algo errado pelo fato das mulheres estarem muito sedadas após a cirurgia
a ponto de nem conseguirem segurar o próprio bebê. Em razão das fortes suspeitas,
esconderam uma câmera na sala de cirurgia antes da terceira cesariana do dia começar
e para espanto da equipe médica, Giovanni foi pego em flagrante introduzindo o
pênis na boca de uma das pacientes que estava sedada mais do que o normal. Inclusive,
pondo em risco a vida desta mulher ao aplicar uma dosagem muito alta de
anestecia.
É
lamentável que até mesmo na hora do parto, um momento que foi tão esperado e
idealizado por muitos casais, as mulheres sejam completamente desrespeitadas,
violentadas e humilhadas desta maneira. Jamais imaginei que a perversidade
humana fosse capaz de transformar o nascimento de uma criança em algo tão banal
e sem importância. Como um homem que fez o juramento de salvar vidas, se
aproveitou da fragilidade de uma mulher anestesiada, inconsciente e indefesa
para satisfazer o seu desejo lascivo? É doentio demais. É repugnante demais. É doloroso
por demais aceitar uma realidade que dilacera a gente por dentro.
Infelizmente,
a realidade é muito dura e cruel para muitas mulheres que foram abusadas
sexualmente, ainda mais estando em condição de vulnerabilidade ao serem
drogadas ou dopadas pelo agressor. Várias mulheres nem imaginam que foram
estupradas, pois se encontravam em clínicas médicas e hospitais sob os cuidados
de respectivos médicos e enfermeiros que se utilizaram da confiança das
pacientes e da credibilidade profissional para cometer atrocidades. Lugares em
que deveriam se sentir acolhidas e seguras, pois são espaços responsáveis por
zelar pela saúde e integridade física das pacientes.
O
ato violento do estupro já é abominável, mas dopar uma mulher para assegurar de
que não haverá nenhuma resistência, é muita covardia por não dá nem a
oportunidade da vítima se defender ou sequer ter ciência do que aconteceu a ela.
Até quando os homens vão continuar violentando as mulheres e se apoderando de
seus corpos?
Os
últimos acontecimentos no país evidenciam que o patriarcado ainda mantêm várias
formas
de violência contra as mulheres de modo latente e recorrente como o assédio
(moral, verbal e sexual), a violência sexual, a violência doméstica e o
feminicídio. Este sistema também nutre e fomenta a mentalidade de que o homem
possui domínio e autoridade sobre as mulheres e seus corpos como se fossem
verdadeiros donos que podem dispor da maneira como quiserem e quando quiserem a
bel-prazer deles.
O
pensamento de que o corpo da mulher é objeto sexual que deve satisfazer aos
homens de qualquer maneira, até mesmo por imposição, está fortemente atrelado
ao sistema patriarcal que por séculos garantiu que os homens ficassem impunes,
e pior, os ensinou que tinham o direito de tratar as mulheres desta maneira. As
consequências são fatais e as gerações atuais ainda estão pagando o preço desta
mentalidade retrógrada e conservadora que estupra e mata as mulheres deste
país.
A
parte mais triste disso tudo, é que o estupro não é tão condenável socialmente
quanto o aborto. E nos deparamos com o ciclo vicioso em que uma mulher é
estuprada e forçada a ter o bebê daquele de quem a estuprou, do contrário, ela
está cometendo um verdadeiro crime! Não faz sentindo isso!
Eu
li um comentário de uma mulher na internet pedindo para não chamar o Giovanni
Quintella Bezerra de monstro, pois daria a impressão de que os estupradores, em
regra, são pessoas distantes da realidade destas mulheres que sofreram abuso,
quando na verdade é o oposto disso. Compreendi o que ela quis dizer, mas a
questão é que todos são monstros, pois permitem que o desejo carnal primitivo
fale mais alto do que as regras morais, éticas e legais impostas em sociedade. Contudo,
é da natureza de muitos homens pensar mais com a cabeça debaixo com a que
deveria de fato pensar, ou seja, agem com o instinto animal do que com a razão.
Em
uma pesquisa realizada pelo The Intercept Brasil, a empresa obteve a informação
de que 1.239 casos de estupro foram registrados em apenas nove estados
brasileiros entre 2014 e 2019, além de 495 casos de assédio sexual, violação
sexual mediante fraude, atentado violento ao pudor e importunação ofensiva ao
pudor. Esse número é ainda maior, pois os casos ocorridos nos outros estados
não foram contabilizados neste estudo e muitas vítimas não denunciam os
agressores.
O
fato é que o estupro se tornou algo muito comum, porém, o sistema acaba sendo
condescendente com um crime tão perverso. Por quê? A resposta é muito simples:
a maioria dos estupradores não são homens estranhos à vítima e sim, pessoas que
pertencem ao círculo familiar e escolar dela, ou seja, pais, tios, avôs,
primos, namorados, maridos, professores e colegas. Homens de vínculo sanguíneo
e/ou de convivência diária que dominam estas mulheres por meio do medo,
chantagem, agressões físicas e ameaças.
Atualmente
não há um espaço físico em que a mulher possa se sentir completamente segura,
pois no trabalho é assediada, em via pública também e até mesmo dentro de sua
própria casa é vítima de estupro. E pensar que dentro de um hospital,
encontraria paz e segurança. Que paradoxo terrível.
Em
meio a este problema endêmico de saúde e cultural que o estupro representa no
Brasil e no mundo, não há como esquecer alguns casos revoltantes que já
aconteceram como, por exemplo, o homem que se masturbou e ejaculou em uma
mulher dentro de um ônibus; das jovens que foram mantidas em cativeiro e estupradas
sucessivamente por um grupo de homens; crianças que foram estupradas e
engravidaram dos agressores e agora, uma mulher que foi estuprada por um médico
durante o parto. Um verdadeiro roteiro de filmes de terror, mas não é ficção. É
vida real.
Giovanni
foi preso em flagrante pela delegada Bárbara Lomba, da Delegacia de Atendimento
à Mulher de São João de Meriti e indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena
varia de 8 a 15 anos de reclusão. Será que não está na hora do ordenamento
jurídico brasileiro reavaliar a lei penal para que aplique sanções mais severas
para o crime de estupro? Fica aqui a reflexão para que cada cidadão exija não
só mudanças culturais, mas jurídicas que tragam de fato melhorias para o
contexto atual e acima de tudo, assegure maior proteção para as mulheres.
Não
podemos permitir que novos casos continuem acontecendo. Devemos, enquanto
sociedade, nos mobilizar e apoiar estas mulheres por meio da construção de uma
corrente de sororidade, solidariedade e empatia. Um dos maiores movimentos que
podemos fazer, é ensinar os nossos filhos a pensar de modo diferente, pois a
educação e a mudança de mentalidade são as força-motrizes que mudarão o sistema
do patriarcado, fazendo com que ele perca forças e deixe de existir.
Foto:
Reprodução/ Getty Images
Fontes:
https://theintercept.com/2019/04/28/estupros-servicos-saude/
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