Educar: impor limites ou não?
Há
exatos dez dias um trágico acontecimento chocou o município de Patos, no sertão
da Paraíba: um adolescente de treze anos de idade matou, a sangue-frio, a mãe e
o irmão mais novo, de apenas sete anos. O pai, por sorte (ou azar) do destino, sobreviveu
ao ataque realizado pelo próprio filho, embora esteja internado no Hospital de
Emergência e Trauma, de Campina Grande, em estado grave. Tudo indica que ficará
paraplégico em razão da lesão sofrida.
O
motivo da barbárie? Os pais o tinham proibido de manusear o celular por conta
do baixo rendimento escolar e das péssimas notas nas avaliações que tinham se
tornado algo recorrente. Devido ao castigo imposto, o adolescente decidiu matar
os pais e o irmão (que acordou assustado quando ouviu o disparo de uma arma). Em
sua defesa, alegou que estava sendo privado de jogar no celular, de conversar
com os amigos e estava sendo pressionado pelos genitores para ajudar nos
afazeres domésticos e se dedicar mais aos estudos ao invés de perder tempo
jogando no dispositivo eletrônico.
Após
este breve relato, eu me pergunto: - O que está acontecendo com os jovens de
hoje? Fica difícil entender como esta nova geração, que possui todas as
facilidades e regalias advindas com a tecnologia moderna, se tornou tão reativa
e violenta? Eu me atrevo a dizer que a resposta talvez esteja na própria
pergunta. Acredito que tudo ficou mais fácil, mais acessível por intermédio dos
próprios pais que não exigem tanto dos filhos. Como consequência, os jovens de
hoje estão muito mimados, desconectados da vida real e não sabem assumir
responsabilidades. E mais, não sabem lidar com negativas.
Eles
querem tudo de imediato, que os seus caprichos sejam sempre atendidos, não
importa o contexto ou o local, tem que ser pra já e os pais que se virem nos
trinta para realizar tudo o que foi solicitado. Quando o pedido é negado se
frustram como se a vida fosse acabar ou perdesse o total sentido. Este drama
lhe parece familiar? Acredito que sim, pois fez parte da vida de qualquer
pessoa que já passou pela adolescência ou que tenha filhos nesta faixa etária
ou que já deixaram de ser “aborrecentes”. Então, suponho que você entende bem o
que eu estou falando. Mas o que mudou com a vinda da geração Z (1997-2010) e Alfa
(2010)?
A
falta de pulso firme dos pais que não sabem dosar o poder familiar. A maioria,
portanto, fica com receio de ser autoritário ou rígido demais com os filhos e
com isso, flexibilizam muito a educação, o que não deveria ocorrer. Contudo, muitos pais buscam compensar a culpa
por estarem sendo “duros demais” bonificando suas crianças com presentes,
quando deveriam repreendê-las pelo mau comportamento, muito deles inaceitáveis.
Há certos valores que não podem ser negociados com os filhos pelo simples fato
dos pais estarem posicionados hierarquicamente acima deles. Dentro do âmbito familiar,
há uma ordem que deve ser respeitada e preservada, pois os mais velhos vieram
primeiro e, portanto, são mais experientes e sábios.
Alguns
pais desvirtuam a educação de seus filhos ao acreditarem que para educá-los, têm
de fazer todas as vontades da criança para que ela não se sinta frustrada, ou
rejeitada. E deste modo, acabam se tornando reféns dos próprios filhos que se
utilizam da chantagem emocional para controlar os pais. Mas esse processo de
crescer com imposição de limites, é importante para que se tornem adultos mais conscientes,
responsáveis e proativos. O problema é que muitos têm medo de que seus filhos
não irão amá-los, pelo fato de não serem pais tão liberais ou descolados.
O
resultado da flexibilização, desvirtuamento e negligência da educação infanto-juvenil
dentro da base familiar, é a formação de cidadãos que não sabem valorizar a
liberdade que possuem com relação às gerações de jovens anteriores; totalmente despreparados
para lidar com a vida adulta; altamente prepotentes e arrogantes (que pensam
que podem fazer o que quiser sem se importar com as consequências dos seus atos).
Jovens que se utilizam da violência verbal, emocional e até mesmo física para
conseguir o que querem sem medir quaisquer esforços para isso.
É lastimável e deprimente um adolescente de treze anos matar a mãe com um tiro na cabeça, o irmão com um tiro nas costas e quase ceifar a vida do pai, somente em razão de um estúpido celular! É muito surreal uma história dessas! Nas palavras do pequeno infrator, o castigo que os pais lhe deram foi a “gota d’água” para que tomasse a decisão que tomou. É inaceitável e intragável um comportamento desta magnitude, mas infelizmente aconteceu. Entretanto, não podemos nos calar e nem permitir que casos assim se repitam. Devemos ficar mais atentos como a educação familiar, nossa base primária.
Foto: istockphoto
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