Simone Biles - desistência ou resiliência?
Ao desistir de continuar competindo nas finais por
equipe, dentre outras disputas individuais em aparelhos e no solo, a renomada
ginasta norte-americana, Simone Arianne Biles, alegou estar sofrendo um
bloqueio mental temporário. Depoimento que chocou o mundo e trouxe à tona uma
reflexão importantíssima a respeito da saúde mental dos atletas, especialmente
os de alto nível como Biles.
Em se tratando de um evento de grande porte como os
Jogos Olímpicos, a inesperada desistência da melhor ginasta de todos os tempos
despertou inúmeros questionamentos, debates e críticas sobre o assunto, principalmente
para aquelas pessoas que não conseguem enxergar a atuação do atleta fora das quadras,
campos, tatames, etc. Para muitos é difícil perceber que atletas de grande
rendimento representam muito mais do que performance impecável e tecnicismo,
são seres humanos como outro qualquer e que possuem vida social.
Infelizmente, o debate sobre os problemas de saúde
mental em atletas não é algo novo, contudo, a recente declaração de Biles teve
uma repercussão diferenciada no contexto atual, talvez, por três motivos: 1) A queixa
advir de uma atleta altamente competitiva e medalhista de ouro consagrada em
diversas competições; 2) Pelos abalos emocionais que os atletas sofrem com a
pressão de não cometer erros, superar pontuações anteriores e obter novas
vitórias para o seu país; 3) Pelo momento histórico em que as pessoas estão
vivendo com a pandemia do coronavírus, cuja maior parte da população mundial
está enfrentando sérios problemas psicológicos, como a depressão, crises de
ansiedade e síndrome do pânico.
A preocupação excessiva com a atuação de nossos atletas
em competições, muitas das vezes, faz com que o estado emocional e psicológico
seja preterido em razão de tantos outros fatores, tais como preparo físico,
excelente técnica e desempenho. Entretanto, a desistência de Biles sugere que o
comportamento negligente da indústria do esporte com relação à saúde mental dos
atletas não pode continuar e o suporte dado pelo Comitê Olímpico dos EUA para
com a sua maior ginasta demostra que a mudança de mentalidade é possível para o
bem-estar dos próprios atletas.
Temos que entender que por detrás do uniforme há indivíduos
que disputam batalhas acirradas dentro de si mesmos e que até os melhores do
mundo possuem limitações físicas e mentais que devem ser respeitadas. Ao tomar
esta delicada decisão, Simone Biles demonstrou ser ainda maior do que o seu título
e ao se expor desta maneira, mostrou que fragilidade não é sinônimo de fraqueza.
Muito pelo contrário, a sua declaração foi um verdadeiro ato de coragem e ao
mesmo tempo, um pedido de ajuda.
Hoje, ao competir
na final da trave da ginástica em Tóquio, a fantástica ginasta norte-americana conquistou
o terceiro lugar no pódio olímpico, evidenciando o quanto a sua decisão foi
acertada neste sentindo, apesar de ter sido necessário o afastamento inicial
das competições para que pudesse recuperar a saúde mental, confiança em si
mesma e bem-estar para estar fazendo o que mais ama. Um grande exemplo de ser
humano a ser seguido, dentro e fora das competições.
Foto: Reprodução/Reuter/Lindsey Wasson
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