Rebeca Andrade - A prata que vale ouro!

 


Recentemente um fato inédito aconteceu nas Olimpíadas de Tóquio 2020, marcando para sempre a história da ginástica artística feminina brasileira: o país celebrou a vitória da ginasta Rebeca Andrade, medalhista de prata, que se tornou a primeira mulher a subir ao pódio olímpico para receber a tão sonhada medalha. Mas quais são os detalhes sobre esta jovem atleta que a tornam ainda mais admirável?

O histórico de vida desta menina impressiona pela sua origem humilde, criada apenas pela mãe, Rosa Santos, numa pequena casa nos fundos de um sobrado em Guarulhos (SP), juntamente com seus irmãos. Aos nove anos de idade foi convidada para treinar no clube do Flamengo, no Rio de Janeiro, iniciando sua carreira no esporte e aos doze, já se destacava como a melhor ginasta do país. Desde então, passou por três cirurgias no joelho direito em razão de graves lesões que a impediram de participar de algumas competições, como o Pan e o Mundial de 2015.

Os desafios foram muitos ao longo da jornada e, Rebeca quase desistiu de continuar sua trajetória como ginasta. Mas os obstáculos não foram fortes o suficiente para impedir que uma garota obstinada, batalhadora e dedicada ao esporte alcançasse um grande sonho. O sonho de muitas atletas, que antes dela, se empenharam ao máximo para conquistar suas respectivas posições do ranking das melhores ginastas do mundo. Nomes como Daiane dos Santos, Daniele Hypolito, Jade Barbosa e tantas outras que brilharam, fizeram história e abriram caminhos para as futuras gerações de ginastas brasileiras.

E a partir do momento em que tomamos consciência do trajeto percorrido por muitas é que entendemos o quanto a vitória de uma é, ao mesmo tempo, a de todas. Por isso, a comemoração pela performance extraordinária de Rebeca na competição por ex-ginastas é tão emblemática e significativa, principalmente por se tratar da primeira brasileira a ganhar uma medalha olímpica nesta modalidade. E o fato de ser negra e de origem humilde também exalta a vitória contra todos os possíveis preconceitos e descrenças que enfrentou até chegar ao grande reconhecimento. O comovente depoimento de Daiane dos Santos na televisão, que não conseguiu conter as emoções, nos traz esta importante reflexão.

Além do suporte técnico e emocional dos atletas e ex-atletas brasileiros, também foi gratificante testemunhar a empatia e alegria da talentosíssima ginasta norte-americana, Simone Biles, para com os feitos de Rebeca durante as competições. Esta linda e generosa atitude demonstra que o esporte vai além de simples rivalidades entre atletas, sendo possível o reconhecimento do potencial de outros e enxergar neles, motivo de admiração, superação e engrandecimento.

Países como China, Estados Unidos e Rússia são mundialmente conhecidos pela forte formação de atletas altamente qualificados e na ginástica artística essa constatação é bem evidente. Não é à toa que o pódio foi constituído por uma ginasta norte-americana em primeiro lugar e uma russa em terceiro. Contudo, há que salientar que países de terceiro mundo e menos desenvolvidos, como o Brasil, não disponibilizam de boa infraestrutura e recursos suficientes para treinar seus atletas; muitos deles sequer possuem patrocínio para ajudar com os altos custos com passagens aéreas, uniformes, aparelhos, etc.

A vitória de Rebeca Andrade, portanto, demonstrou que é possível persistir no sonho e que as renúncias feitas em prol dele são recompensáveis. Que a origem das pessoas não é motivo de vergonha. Muito pelo contrário, a exemplo da música “Baile de Favela” selecionada pelo coreógrafo Rhony Ferreira, o funk ecoou por todos os cantos de Tóquio levando não só a alegria, mas também a força de superação e leveza do povo brasileiro em frente aos desafios. E acima de tudo, que não devemos julgar nossos atletas pelas falhas cometidas no caminho, sejam pequenas ou grandes, pois muitas das vezes, não sabemos as dores e as dificuldades que enfrentam na vida.

Concordo com a fala da nossa medalhista de prata que sabiamente disse que atletas de grande rendimento não são robôs, também são seres humanos que possuem limitações físicas e psicológicas. Devemos aplaudir a coragem de cada um deles por se desafiarem sempre e se dedicarem ao esporte com tanto amor e garra. Obrigada Rebeca por representar um país inteiro com esta conquista e nos encher de orgulho.

Foto: Ricardo Bufolin /Panamerica Press/CBG


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