Adeus


Quando vi minha querida irmã partir em um avião, eu me senti como em “Despedida” de Rubem Braga. Só que de fato, pude me despedir e, para falar a verdade, não sei se foi menos doloroso. Como pode uma simples e pequena palavra nos fazer sofrer tanto? Adeus. Como se fosse tão fácil dizer adeus a quem se ama. E sabiamente, Rubem Braga escreveu que uma despedida é sempre triste, com ou sem a pequena palavra, mas com ela seria mais triste ainda. Como ele acertou!
Quando li Despedida pela primeira vez, me emocionei. Agora, já perdi as contas das inúmeras vezes que li e reli. Restou-me apenas o consolo da saudade e das memórias que atormentam o pensamento. E, agradeço a Rubem Braga por permitir em Despedida, a confissão deste sentimento. Nem que seja “às vezes”.
Através de uma narrativa subjetiva, Rubem Braga descreveu com detalhes, o pesar daqueles que partem sem se despedir. Muitas das vezes, por não terem a oportunidade de dizer adeus ou simplesmente, optarem por não dizer, por pensar que fosse mais fácil assim. Eu prefiro dizer adeus, mesmo que doa na alma. E acreditem se quiser, como dói.
 Ouso dizer que tratar de um assunto tão delicado como este, não é para muitos. Requer muita sensibilidade, veia poética e criatividade. Rubem Braga o faz de maneira exemplar, utilizando-se da crônica como linguagem literária. Este tipo de linguagem pertence ao jornalismo literário, também conhecido como “New Jornalism” ou Jornalismo Novo. Não foi à toa que fui buscar em Despedida, a inspiração para o meu sofrer.
Entre abraços e uma rápida despedida, vi minha irmã partir para bem longe dos meus braços e do meu alcance. E nada melhor do que pensar nas palavras de Rubem Braga para acreditar que foi a vida que nos despediu. Sem rancor e sem remorso. 
Desde o início, eu me identifiquei com o lirismo existente no texto Despedida. Muito mais agora do que antes, apesar de toda a melancolia que nos remete a despedida. Seja ela realizada com ou sem a pequena palavra. Adeus. Palavra esta que nos dizeres de Rubem Braga “se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo”. E, assim como em Despedida, me sinto como uma cigarra perdida nas lembranças frias de um domingo sem fim.

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