Memorial
No final da semana
passada, o Brasil inteiro pode acompanhar de perto, no Fantástico, ao trágico
incidente que ocorreu dentro de uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, mais
conhecida como a Favela de Antares.
No dia seis deste
mês, a polícia estava fazendo uma inspeção no local para averiguação do
intenso tráfico de drogas na região (em torno de 4 milhões de
reais) e o esconderijo de certos traficantes. O cinegrafista Gelson
Domingos, quarenta e oito anos, filmava a ação da polícia, quando foi baleado no
peito por uma bala de fuzil. Apesar de ter sido encaminhado para a UPA (Unidade
de Pronto Atendimento).
Infelizmente, chegou ao local sem vida,
provavelmente pela bala de fuzil ou pela demora do resgate, devido às
trocas constantes de tiros entre a polícia e os traficantes que
impossibilitavam a sua saída. É uma perda lastimável. Mais quatro corpos
foram encontrados sem vida, supostamente, todos traficantes. E onze suspeitos
estão sendo investigados pela morte do cinegrafista.
São em momentos como
este, que nos indignamos com esta violência bruta, crua e avassaladora, ainda
mais quando se trata de um cidadão que estava cumprindo o seu dever. Após vinte
anos de profissão, Gelson Domingos se deparou com a morte, de forma corajosa e
aos meus olhos, morreu dignamente, pois morreu fazendo aquilo que mais
gostava. Não me refiro somente ao ato de filmar, mas ao fato de poder mostrar
ao mundo, imagens que fazem parte da natureza humana, desta sociedade da qual
fazemos parte.
Temos que agradecer
pela sua contribuição por todos estes anos de trabalho, arriscando sua vida,
dia após dia, por nós brasileiros, por uma ideologia ou quem sabe, pela
conscientização deste país tão violento. Infelizmente, Gelson teve que
sacrificar a sua vida...
E por pior que seja a
situação, não há como culpar os traficantes, produto do meio desta sociedade
burguesa. Assim, como sentimos raiva pela perda de um inocente, eles também
sentem raiva pela condição sub-humana em que vive a maioria deles. Totalmente
abandonados e esquecidos pelo direito, pelo governo e por fim, pelo povo.
Seguindo o raciocínio
físico de causa e efeito, encontramos a resposta para tantas fatalidades e
mortes neste país, ou melhor, no mundo. Não que seja uma justificativa para a
marginalidade, mas infelizmente, pobreza e violência são sinônimas e andam
juntas. Por mais que seja difícil aceitar, é como afeta, em parte ou no todo, o
nosso sistema social.
Por agora, só nos
resta lamentar pela perda de centenas de milhares de inocentes, especialmente,
daqueles considerados vítimas algozes da indiferença, do abandono, da exclusão
social, que a meu ver, são tipos de violência, tanto quanto a violência física.
Que controvérsia...
choremos por não sabermos cultivar a paz, a igualdade social e acima de tudo, a
democracia.
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