Racismo
Após uma intensa aula
sobre as ações afirmativas no Brasil com o professor de Direitos Humanos,
uma querida colega me perguntou se eu me considerava racista. À priori, eu
disse que não. Depois procurei analisar algumas concepções e opiniões
defendidas arduamente pelos meus colegas, em especial, pensamentos do meu
próprio professor durante o polêmico debate e me permiti criticar a minha
própria resposta, construindo uma nova reflexão a respeito da discriminação
racial e do preconceito.
Assim como o
professor Ulisses, muitas pessoas aderiram ou melhor dizendo, concordaram
com a opinião por ele exposta, em que afirma que a grande questão do racismo no
Brasil se dá pelo fator econômico, enaltecendo o fato de que a condição
financeira de um indivíduo o qualifica ou o desqualifica como agente detentor
de direitos e garantias fundamentais. Em parte também concordo, a partir do
momento em que a sociedade capitalista condiciona o homem e a sua existência ao
arrecadamento de renda que ele gera. Em outras palavras, o homem representa
aquilo o que ele tem. Sem essa condição, aquele indivíduo desprovido de renda
ou qualquer riqueza material não é considerado cidadão de direito para as
políticas públicas e privadas.
Ao contrário do que
muitos disseram, não acredito que este seja o fator principal, apesar de representar
um efeito devastador quando se trata do racismo descontrolado em relação ao
pobre. Mas a questão que não quer calar: - Será somente em razão da sua
condição social ou será que o negro pobre sofre mais discriminação e estigma
social pelo fato de ser negro? Aproveitando o pensamento de uma colega, dei o
exemplo do jogador de futebol, Ronaldinho Gaúcho. Que apesar de ser uma
celebridade de renome e rica, ainda sofre preconceitos em relação à cor de sua
pele e em relação aos traços de origem africana que carrega (cabelo, nariz,
boca etc).
Como explicar, por
exemplo, frases que afirmam: - Ele é negro, mas é bonito? Ele é um negro
bonito, tem traços finos? Com isso, podemos perceber que o conflito não se
baseia somente na questão social, mas também nos valores culturais, históricos e
midiáticos que não consideram a beleza negra e, portanto, a discriminam, rejeitam
e a tratam com indiferença.
Podemos visualizar a
diferença de tratamento entre pessoas de condição econômicas distintas.
Contudo, há uma discriminação maior com relação ao negro, principalmente se ele
for pobre. É o que acontece no nosso país e em decorrência disso, há essa
confusão sobre os fatores que influenciam e impulsionam o racismo. Econômico?
Sim. Cultural mais ainda!
Nesse sentindo,
acredito ser difícil extinguir com o racismo no Brasil, devido a toda esta
construção histórica que marcou de forma negativa a "raça" negra. Afinal
de contas, assim como os negros africanos, muitos outros povos (brancos) também
foram escravizados em diversos momentos históricos e por que será que somente
os negros obtiveram esta resposta tão depreciativa?
De fato se faz
necessário a utilização de recursos e dispositivos legais para tentar amenizar
os efeitos devastadores causados por esse débito histórico. Reparar? Não sei ao
certo, pois não há como mudar fatos que dizimaram milhões de negros
escravizados e acima de tudo, não há como combater, em princípio, os valores
racistas altamente enraizados e propagados há séculos em sociedade.
O pior preconceito
não é aquele que é visível, direto. É aquele que se encontra no inconsciente
das pessoas. Principalmente em nós, brasileiros, indefinidos em relação à cor
da nossa pele. Que ironia, não é mesmo? Quem somos de fato? Negros, brancos,
índios?
Por tais reflexões,
digo que não sou racista. Porém inconscientemente, carrego dentro de mim
valores que me foram passados e que se encontram, na sua maior parte,
adormecidos. Por este ângulo, sou "racista" a partir do momento em
que não aceito os cachos dos meus cabelos e que por muito tempo os alisei para
me considerar bonita e bem aceita na sociedade. E mais uma vez, lhes pergunto:
- Será realmente que o fator principal do preconceito racial é econômico? Como
o próprio termo já sugere, tenho minhas dúvidas!
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